segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A casa de espelhos

Afogou-se na casa de espelhos, obrigado pela madrugada.
Reservou-se na casa de espelhos, e calou-se.
Aproximou-se.

As paredes eram espelhos, o teto era espelho, o chão era espelho,
o mundo era espelho; a casa era espelho, de espelhos.

À sua frente, um corpo.
Em sua posição, outro corpo.
Por todos os cantos: corpos, e mais corpos, e mais corpos...
Debaixo de seus pés, a profundidade de um clarão
(o mais belo e vívido, epifânico, sob olhos secos e compulsivos).
Acima de sua cabeça, a altura do divino.

Nunca será seu reflexo,
a passagem de um futuro.
Todos esses espelhos eram seu pretérito,
endividados,
enlouquecidos e esquecidos em um presente,
no qual, neste momento,
fundiu-se ao explendor de mãos críticas.

Imagens vermelhas apavoram,
porém aliviam.

Não houve espelho que tivesse passado desapercebido,
pois na casa de espelhos, o espelho é o inimigo,
o diabo,
vulto perdido que o corrompe.

Na casa de espelhos, o corpo é mero produto do prazer,
refletido em todos os lados,
a todo o tempo,
fracionado em detalhes.

Não se pensa na casa de espelhos.
Não se ouve,
não se diz.
Faz-se.

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