domingo, 27 de novembro de 2011

A via

Se o caminho é desigual, é que um lado da vida está sobreposto ao outro.
Se o caminho é atemporal, é que uma lembrança da vida está mais exposta que as demais.
Se o caminho é vital, é que uma parte do coração vive mais.
Se o caminho está pesado, é que falta seus cigarros na minha bolsa. Eu caminho vazia, bolsa vazia, mente vazia. A vestimenta sou eu. Os sapatos são meus pensamentos. São as ideias que percorrem pela via chamada vida.

Se seus sapatos carregam cigarros, sua mente está em fogo, e as ideias são fumaça.
Seus cigarros guardados, a mente descansa.
Seus cigarros na minha bolsa e seus sapatos são novos.
Seus cigarros comigo, e seu coração não é meu.
Seus cigarros comigo, estou eufórica.

Eu sou eufórica longe da paz.
Paz é equilíbrio.
Se o caminho é desigual, o caminho está em desequilíbrio.
Se o caminho é desigual, não vejo você para equilibrá-lo.
Paz é equilíbrio.
Paz é você.
Eu sou eufórica longe da paz.
E meus cigarros se acabaram nessa via chamada vida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cigarro

Voltando da estrada, parei na esquina fria, às 6 horas da manhã, para fumar, pensar; dançar para esquentar; dançar para acordar; dançar para me lembrar; dançar para me fechar; dançar para cantar... Cantar aquela canção que tanto dizia sobre vencer e viver, dançar aquela canção que tanto queria ser o que era caber e ceder, tocar aquela canção que eu tanto sentia que era perder e pender. Pensar sobre pendências, vivências, imensas promessas, conversas imersas na neblina da nuvem do nenhum... Nenhum lugar, nem para amar, nem para almejar, nem para crescer, nem para suspender, ou emergir, diminuir, ou rir. Pensamentos propensos, pretenciosos, dispostos, impostos pela oclusão da glote, gutural, de um grito que vem da garganta, que arranha, e vela, veloz, vem vindo, o vento do pulmão, para os lábios, vorazes, da voz. Vem de cor. Cor de coração. Cordis. Cordial. Dinamite que dilata dentre os dentes. E sai... A fumaça, e foi-se com o fogo, suave, sensitiva, sem sentido, sem ferocidade, sem mais velocidade, acabou-se a invenção, saiu toda a fumaça da feminilidade. Fui-me porque cigarro acabou.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O menino

O menino é um homem, mas não aparenta. Senta no banco, senta ao meu lado, me passa um cigarro, e dividimos a fumaça. Fica de pé, o menino, e diz palavras de homem, se porta como um menino, bagunça o cabelo, e sorri, feito um moleque. Me mostra sua arte, me conta empolgado, e sentado do meu lado, me agasalha.
O menino não me abraça, mas o homem me segurou forte. O menino não me beija, mas o homem me enlaçou. O menino não me dá suas mãos, mas o homem as acariciou.

O menino não dormiu esta noite, e o homem encarnou.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Águas

A cabeça cheia é a cabeça vazia.

O som costuma ser abafado e só se ouve o correr das águas. O que realmente importa fala baixo. A correnteza é forte.
A mente se inunda de rios - água doce -, convenientes, correntes, largos. Desembocam num mar chamado olhos, de água salgada. O sal, o qual faz arder as feridas do desbravadores das ideias, sujeitos marítimos, ao sentirem a dor, despertam de um sonho de navegadores para a realidade dos mergulhadores: são pescadores, ou caçadores de conhecimento.
O mar, aquele que se extende de um corpo para fora, de uma lágrima de sofrimento para a sabedoria de um mundo. Por fim, entende-se a vida de um pensador.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Unidade constante

Se tenho saudade, é da inocência. Da ingenuidade de um sentimento forte, denso e intenso, ao mesmo tempo frágil. Não das noites de amor, das manhãs de companheirismo, mas do que brilhava sob as nossas cabeças. E de como compartilhávamos essa luz.

Se sinto falta, é da paz. Não da fulgacidade da paixão. Não da divergência corporal - quase sensual. Da amizade, sim. Das confidências, mas das sensações... Não sabia mais lidar.

Se ainda espero, é a espera de uma constante. Um corpo que me seja constante, junto com um coração que me seja constante. Não aguardo um vazio ou a chegada do frio. Espero um só. Não três, não dois, uma unidade de pessoa - de alma e físico, emotivo e lírico.
Que venha aos poucos, como as gotas de uma chuva: uma por uma. Que venha... Numa próxima estação de chuva.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Caminante 2

E no desespero, caminhante, lembre-se que não existe o caminho; é você que o faz.
As pegadas são seus rastros, andarilho, e mesmo olhando para trás, não verá o caminho mais.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Noite ou vida

Alguém não dormiu bem durante a noite. Teve o sono agitado e sonhos turbulentos. Remexeu-se o tempo todo, e sentia calor... E frio. Calor... E frio. Enrolou-se nas cobertas erradas, e a colcha estava já caída no chão. Se acordou, foi de madrugada, porque assustou com um barulho ou foi erro do relógio biológico mesmo. Se despertou-se, foi na hora errada da manhã - cedo ou tarde demais. E a sonolência não vem quando esses pequenos surtos de realidade acontecem: está deitado em uma cama, olhando para o teto, para o ventilador, para as cortinas ou apenas para a escuridão; para as silhuetas monstruosas que tomam forma durante a noite, dos móveis do quarto. E pensando, divagando sobre a vida, sobre o dia, como se fosse possível flutuar, como se houvesse uma neblina - nada é claro demais, mas tudo é concreto demais. E adormece novamente. Como se a realidade tivesse dado espaço à fumaça da inferência: o que é sincero nesse sono?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sperare

Que um dia eu possa sanar o meu silêncio.

A voz sai e volta - speculum - especula sobre os sentimentos que outrora eram luz, mas agora são esperanças, que vão... Que se vão...

Spero. Spes.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Asas

Agradável seria ter asas, para voar pelo céu em dias claros, acompanhando o movimento das nuvens. Ter a ilusão de alguma consistência e me deitar nas nuvens, para cair em falso. Fingir que são leitos, e confundir sua maciez alva com sonhos de um dia ensolarado.

Excitante seria ter asas, velozes, para protestar contra o mundano e traiçoeiro. Para correr em direção ao solo, como se as asas fossem pés de um corredor, como se o vento que me confronta fosse o corredor do limite da vida. Fazer como se fosse suicídio. Pretender um choque, mas surpreender a poucos metros do chão, e voar, de novo, para o céu.

Gentil seria ter asas, e voar, planar, como um aviãozinho de papel, de acordo com a brisa, maestra, sobrevoando um planalto - terra plana, terra lisa, terra de quem quer ver o céu sem restrição. E calmamente, olhar para baixo, para àqueles que me olham também. Sentir-se ao mesmo tão grande quanto pequeno. Tão igual.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Voar é...

Eu só preciso que você me tranquilize. Sua voz é capaz de fazer levitar a pedra que se apoia nos meus ombros.

Quero lhe ouvir por muito tempo. Faço um desejo para cada milagre de Deus, só para poder lhe escutar um pouco mais. Uma palavra sua, acho, até eu poderia voar. Pense em uma lembrança boa. Já sei a minha. Pensou? E agora, vai vir comigo?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sonho

E eu acordei.

Abri os meus olhos. Pus os meus pés no chão; e isso foi como uma epifania. Continuei sentada na cama, e foi como um momento de reflexão.
Se um sonho não é capaz de persistir, não há porque continuá-lo sonhando. Se não existe uma continuação, ou na vida, em si, não é um fato que possa ser consumado, se possível, acorde.

É um alerta.

Meus primeiros passos foram os mais difíceis - estavam de luto. Testemunharam a morte de um sonho.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crer para ver

Eu não conheço a Raiva. Não gostaria de ter uma amizade com alguém cujo nome se inicia com uma consoante tão complicada quanto o "r" - em cada parte do mundo é de um jeito, de um diferente tipo de esforço.
Mas é do feitio dessa pessoa aparecer, puxar uma conversa, mesmo você querendo distanciar-se; mas ela não deixa. A Raiva é persuasiva, cabeça manipuladora, lhe dará vingança em troca de sua alma. Apoderar-se-á dela, e lhe deixará fora de si. E você nem perceberá quando tiver deixado sua paz de lado.

Ah, isso sim... Conheço alguém, uma grande amiga minha, que sabe bem do que falo. Desgosta da Raiva, tanto quanto eu, e jamais tive notícias de um ser tão pacificador. Calma, sua inicial é simples - seu som é preciso, bonito quando tem de ser, tranquilo como o silêncio. Ela é como o mar em um dia ensolarado: uma vastidão sem fim que vai e volta, e quando vem forte, acaba-se logo o que não deu para aguentar. O que o mar não suporta? Ela absorve o que vem de ruim, e consegue tirar de cada situação sua própria calmaria - é tudo tão belo, e o que não for... Bom, é a vida!

Mas não se vive somente de uma dessas amizades, e quem me ensinou tal lição foi a Crença. É tempestuosa como a Raiva, e segura como a Calma. O primeiro encontro consonantal de seu nome é de um único som em todo o planeta. Essa menina, criança, não é bonita nem feia, mas adequada a qualquer visão. Não desperta paixão ou atenta à fuga alheia, é confiante de si, e suas melhores armas são as suas palavras. É capaz de convencer a qualquer um a ter ideais puros. Diferente da Raiva, não é universal, é individual. Mas é revolucionária. E para saber levar adiante uma vida assim, leva consigo sempre uma felicidade, para suportar qualquer trapaça do acaso ou do destino; de tal modo como a Calma,
A Crença me fez ver que não há sentimento mais completo do que o amor. E além desse, o próprio.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Gênero

Se eu o encontrei outro dia, lhes conto que não foi por acaso, nem pelo destino, mas por minha vontade. Eu o procurei, o persegui, e o encontrei. Talvez não da maneira como eu queria, nem como eu gostaria, mas estava lá: ele. Tão rápido que mal pude entender cada detalhe do seu rosto, ou gravar sua voz e suas desculpas pelo atraso. Mas estava lá; estive com ele. Em meio a tempos turbulentos, achei o atalho que me levava a ele. Que seja se quase nos esbarramos todos os dias, nossas visitas são feitas do desencontros. Mas eu o achei, sim. E não o prendi. O amor não é nenhuma grande verdade quando somos seres egoístas.

E nesse encontro eu não soube ao certo o que fazer. Se eu diria "adeus" ou "arriverdeci", eu não soube distinguir. Pois amá-lo era a melhor coisa para mim - eu conseguia ser eu mesma, e até brincar com a irresponsabilidade. Mas sempre foi o nó da minha garganta. Eu nunca soube com o que lidar.

Em um instante, minha dúvida se revelou, quase epifanicamente. A vida de um poeta não me servia, anotei. Então eu disse ao rapaz - até então o único que eu desejava poder viver pelo resto da minha vida - que eu estava prestes a me casar (sim!). Mas vejam bem, não com ele, com outro. Talvez fisicamente, não apenas oniricamente. Não saberia de meus sentimentos, notei seguidamente. Mas eu sim, eu sei. Agora, certamente, me despedirei e direi um breve "adeus".

O motivo de tanto lío seria a realização de que dentre sonhos, a vida não é feita para se viver. O que está a minha frente jamais seria um "ele", mas sim um...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Gente

Tem gente que não percebe que aquilo que segurava, escapou. Dizem: se me cayó. O caminho é tão tranquilo, que não nota o ato, não ouve o barulho da coisa caindo do chão, não sente escapulindo da mão.

Tem gente que é tão urgente que não espera para ver. É ver para crer. Tem gente tão emergente que não fica para ser. Crer para ver - aos pacientes. Tem gente tão eloquente que se confunde com paciente. Pacientes das letras. Das expressões da mente.


La gente no lo vió, pero lo que yo tendría se me cayó.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Não se fala

(...) Eu dormia de mais. Quando acordava, desesperava. Colocava os pés no chão e encontrava garrafas de cerveja pela metade; cacos de vidro - e por mais que eu pisasse neles, eu não me cortava. Estava sentada na cama. Tinha alguém deitado. Uma amiga desacordada, em um sono mais profundo que o meu. Lembrava do porquê de estar ali. Não achava as roupas certas. Estava frio, mas não tão frio assim. Eu estava linda.

Corria pelos corredores, atrás (...). Um, dois conhecidos. Irmãos que se espantaram ao me ver. Um beijo no rosto. "O que está fazendo aqui?" Mas... "Você viu (...)?". Achei, não estava. Estava chegando. Voltei para o quarto, a amiga despertava. Me encorajava. Estava do outro lado da porta, me esperando (mas não sabia que me esperava). Afinal, é sobre (...) que se tratava tudo.

(...).

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Matéria

Pensar de mais atrai.
Penso, penso, penso, penso e vejo. Materializei as minhas preces.
Até mesmo nos sonhos.


domingo, 19 de junho de 2011

Não

Eu nunca soube o que de fato escrever quando começo a escrever. Mas por que eu deveria escrever sobre algo escondido sem explicitá-lo no texto? Por que é tão difícil falar assim? A escrita não é a expressão do pensamento? Mas por que? Não sou romancista, não quero ser analisada. Só quero dizer. Dizer e escrever. Pensar, escrever e dizer. Pensar. Eu só penso, eu não digo. Eu não escrevo. Penso para mim, digo para mim, escrevo para mim. É tudo secreto, no meu mundo é tudo grande, mas nos outros mundos são só detalhes. Vivo dos detalhes, do discreto e do sutil. É tudo pequeno demais. Meus sonhos são pequenos, mas são fortes. São fortes demais para serem grandes. São ideas muitos extensas, que não se resumem, não cabem em lugar algum senão em mim.

O que eu penso ningém mais pensa igual. Eu também vivo do "não sei". Não sei me expressar, então estou sempre errada. O que eu faço, é mal intencionado. O que eu penso - sou ingênua. Sou ingênua, sem maldade; na verdade eu pensava era em violência. Eu quero me enaltecer, parecer bonita; é auto-mutilação, é provocação. Eu não sei o que fazer para ser uma pessoa clara. Clara e objetiva. Eu não sei. Não sei ser útil e amável, não sei conversar, não sei agradar. Não sei ser outra pessoa. Não sei dançar, não sei me explicar, não sei ter expressão. Ah, se vissem o que eu penso. Se vissem o que eu penso me amariam. Se me amam, foi acaso. Mas me deixam. Sempre me deixam. Me deixam porque eu os deixo. Porque eu não sei manter. Não sei manter organização, ou uma relação qualquer. Não sei ser contínua. É tudo inércia. É tudo inerte.

Não cabe em meu corpo motivos suficientes para ser bela. É auto-mutilação, não é? Que importa, se for tudo assim, um prazer? É o vício, que tomou conta de mim. É o meu momento de interiorização. O que mais? É querer se machucar, chamar atenção. Ser notada. Que eu me lembre eu vivo da discrição. Não há como ser percebida.

Eu não falo. Não sou ouvida, não falo. Não falo em vão para não aborrecer. Não falo para quem me despreza. Um em mil. Alguém há de me ouvir. Tem que ter alguém. Alguém me ouve, quer me ouvir. Sim. Eu falo só para esse um. Tem alguém que sabe de mim, mas eu ainda não sei. Sou, ao mesmo tempo, acaso e destino. Sou, na verdade, uma vírgula mal colocada em um período longo. Mas eu aprendi a não dizer. A cada "não", eu sou menos. Eu penso mais, eu falo menos. A cada "não", eu vivo mais para mim. A cada "não", eu durmo mais. Se eu durmo mais, eu vivo menos. Se eu vivo menos, eu sonho mais. Se eu sonho mais, os sonhos se tornam maiores. Se os sonhos se tornam maiores, eles se confundem, porque são pequenos. Se os sonhos se extendem, eles se confudem, eles se bagunçam, eles se rompem. Eu sou uma bagunça, sou o più o meno. Sou o quarto desorganizado, a casa empoeirada, que não é varrida há um mês. Sou o espirro da pessoa que adentrou nessa casa.

Sou cada "não" que dizem por aí.

O vento persiste

O vento persistia em levar todas as pétalas de um dente-de-leão para bem longe, bem longe deste campo de dentes-de-leão. E com o vento elas se foram, viajando, deixando para trás o que as inteiravam. Era uma flor, agora são pétalas, nômades, sem terem como voltar ou fazer parte de um todo. São apenas, são caminhantes, caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atrás, se ve la senda que nunca ha de volver a pisar. Mas que vá. O vento persiste em levá-las para bem longe daqui. Que vão.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Descompromisso

O que o torna tão especial - se faz da ocasião? Não. É gente, é homem comum, aquele que tem minha palavra (o nó da minha garganta) mas não sabe. Deixe-me desfalar, porque já cansei de viver a vida de um poeta.

Se eu o ver por aí, na rua, da janela de um ônibus, o que for, entenderei. Podemos adiar o café da tarde?

Compromisso

É impossível desfalar. Desde a primeira vez que eu lhe vi, eu disse que um dia lhe teria. E me encontrei palavreada com você.

domingo, 5 de junho de 2011

Acaso

Não condizem suas ações com o tempo. Seu acaso é espontâneo, mas o meu pertence a você. O que basta - lhe persigo. Espero você aparecer na minha vista, ao menos um sinal de vida, uma palavra... Um encontro. Uma tarde em que você sorrirá ao me ver e me oferecerá um café na sua casa, com seu jeito particular de ser.
Em algum momento lhe alcançarei, se o destino me permitir.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Hoje - 2

Meu amor, hoje acordei com uma saudade tremenda de você. Acho que é porque nas segundas eu costumava sentir sua falta na minha cama, encolhida, virada para mim, mas sempre tampando o rosto. Mesmo sempre tendo lhe visto nos sábados, às vezes nos domingos. Mas eu acordei atrasada, sem tempo de pensar. Dormi tarde, por estar demais em você.

Hoje eu percebi que quando a vida nos tira algo, nos dá um apoio. Grandes amizades surgem nas horas mais precisas, e as velhas florescem. São os amigos que me fazem ter força de querer não lhe ter mais, só que nada é tão fácil assim. Um dia, uma semana, um mês, quem sabe...

Hoje eu me vi desesperada. Sei que eu sorri, só não queria ter lhe desapontado de tal forma. E a incompetência de me redimir é o que me deixa assim. Eu faria tudo, você sabe, eu sei. Mas você não quer, não me deixa, não é a hora, eu sei... Não, não sei. Não sei não lhe querer. Não queria lhe desiludir, porque o que tivemos foi o mais forte para mim. Queria ter sido o mesmo para você. Queria ter feito diferente. Quando pensamos conhecer um sentimento, ele vem, nos surpreende, nos transforma em alguém melhor. Você me fez feliz demais, saiba disso.

Hoje eu conclui que não lhe esquecerei tão fácil assim. Como me disseram, mais uma mulher, mais um drink...

domingo, 29 de maio de 2011

Hoje

Entrar na casa e já saber que estará vazia... A solidão sempre foi meu refúgio, e mesmo apagando as luzes, fechando meus olhos, me agasalhando contra qualquer vento frio que vier me resfriar, a mente está agitada, como se gritasse, se pensasse alto em silêncio.
Não é a minha dor que eu mostro a todos que se aproximam. Essa é minha. Mas sim o meu sorriso. O que eu sinto eu passo a quem está perto de mim. Que se sintam bem comigo.

Entrar no quarto e saber que um dia um amor já passou um tempo por lá. As memórias são o que me fazem ir além do sentimento, mas o que importa? Hodie et nunc. Seja, e o que lhe vier, seja. Conte-as para quem quiser lhe ouvir e tire sensações de seus ouvintes. Sonhe com suas histórias, e guarde-as no coração. Nunc et semper.

Tirar suas roupas e saber que já o fizeram por você, certas vezes. Ame, e mesmo que acabe, não se esqueça.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Pablo Neruda

Poema 7

Inclinado en las tardes tiro mis tristes redes
a tus ojos oceánicos.

Allí se estira y arde en la más alta hoguera
mi soledad que da vueltas los brazos como un
náufrago.

Hago rojas señales sobre tus ojos ausentes
que olean como el mar a la orilla de un faro.

Sólo guardas tinieblas, hembra distante y mía,
de tu mirada emerge a veces la costa del espanto.

Inclinado en las tardes echo mis tristes redes
a ese mar que sacude tus ojos oceánicos.

Los pájaros nocturno picotean las primeras estrellas
que centellean como mí alma cuando te amo.

Galopa la noche en su yegua sombría
desparramando espigas azules sobre el campo.



Do livro: 20 Poemas de Amor y Una Canción Desesperada

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Alicia Cid

Los caminos

Pienso que los caminos son caminos
sólo cuando olvidamos que son puentes.
Pienso que los caminos son distancia
sólo cuando ignoramos que son puentes.
Hoy, por ejemplo, yo salgo a mi camino
y veo enfrente a otro que sale a su camino.
Yo miro su camino y mi camino desaparece.
El otro mira mi camino
y tal vez su camino le parece absurdo.
Pero quizás mañana yo salga a mi camino
y no mire hacia el otro que sale a su camino.
Puede que el otro mire, sin verlo, mi camino.
Puede que el otro vea mi camino y lo olvide.


Do livro: Nada, y el Corazón

Jose Ruiz Sanchez

Azul tinta

No queda la verdad. Queda
el tiempo que reúne lo vivo. No
queda el tiempo sino el recuerdo, no basta
dormir, queda
escribirlo. No hay
ocasión de decirlo cualquier día sino
siempre. Eso pasa y
esto se mueve. Lo demás
es un descolorido extravío andando
del revés, a lomos
de una secretísima ciencia.
No
se vive, regresan
las palabras
por ello. Y
esto es todo
cuanto discurre y se
llena.

Algunas cosas saben lo que no se dijo
nunca, y se tintan de una benevolencia
cansada. Se resuelven
en las aves que vuelan y se paran
a oír cuando en septiembre
vuelven los vientos primeros y habladores.

Ven con ellos.


Do livro: El ojo de la cerradura

terça-feira, 19 de abril de 2011

Per

Não ceda.
Persista no erro, resista à tentação. Persista no que está presente. Permaneça.

Por onde caminha não há bifurcações, apenas as que você criou.


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Anderson Aníbal

Gestalt

achou que era infinito e era fogo achou que era mais elevado e era rasteiro achou que era correto e era desordenado achou que era água corrente e era fervura achou que era especial e era diário achou que era domingo e era carnaval achou que era para sempre e era agora achou que era dormir e era florescer achou achou que era comum e era semi-árido achou que era caminho e era sede embriagante achou que era curto e era ouro e era pão achou que era enfeite e era simplicidade achou que era amor e era nada achou que era suicídio e era sorriso achou que era fim e era princípio achou que era mesmo e era reencarnação achou que era sólido e era sentimento achou que era rins e era timidez achou que era rua e era viés achou que era nuvens e era carvão achou que era bonito e era folclore achou que era rabisco e era assinatura achou que era poesia e era limite achou que era palavra e era pensamento achou que era rainha e era coração achou que era réptil e era sutil achou que era sutil e erarepetido achou que era amor e era soro fisiológico achou que era lágrima e era colírio achou que era assunto e era falta de memória achou que era elevador e era montanha-russa achou que era carro e era caixa eletrônico achou que era real e era motel achou que era que era herói e era moinho achou que era rei e era banido achou que era gay e era introspectivo achou que era fome e era ferro fundido achou que era peixe e era cavalo marinho achou que era rápido e era cardume achou que era muitos e era sozinho achou que era proteger e era perder achou que era outro e era ele mesmo


___________________________________


Momentos invisíveis

Aquele rapaz de cabelos vermelhos está olhando, por trás do livro, o rapaz de jaqueta escura sentado no canto da sala. Mas ninguém viu. Eles vão se falar mais tarde. Mas ninguém vai ficar sabendo.

Nem todos os momentos são visíveis. As estátuas, por exemplo, lentíssimas.


Do livro: Alguns leões falam

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Homem-menino

Homem menino, há quanto tempo lhe espero, e ainda assim as horas que restam para lhe ver me apertam.
Que desinteresse há em você, que as coisas mundanas se fazem superficiais. De outra espiritualidade, raptou a minha alma e prendeu-a, para soltá-la toda vez em que nos encontrássemos.

Menino homem, o que fez com meu coração que sofre por você? Com o meu corpo que chora pelo seu, com a minha razão que se anula com a sua? O que deu em mim; eu, que fraquejo sempre quando lhe vejo. Um dia sim, um não, um cumprimento, uma promessa, alguns desencontros, uma visita... Um dia sim.

Homem, o quê de homem me despertou um desejo, debaixo dos tapetes? Talvez fosse preciso ser outro alguém para tal, mas não é. Parece-me bem, fez-me satisfeita.

Menino, suas palavras são as únicas capazes de me encantar, e sou aquela que se apaixonou por você. Um, dois, vários suspiros, consecutivos. Fale mais.

Você me cativou, e apenas você.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pronome

Você. Você que cresceu. Você que me deu alegrias. Que me leu com cuidado. Que escreveu em um papel: "sou seu"; você de outro gênero. Você que sorri. Que diz sobre amor. Que têm olhos de carinho. Você que se fixa. Que se prende. Que amarra o olhar. Você que segura o ar. Que o solta num suspiro. Você que perde o fôlego. Que se cansa. Que se envolve. Você que dança escondida. Que ri. Que sente. Que não demonstra. Você que eu percebo. Que eu noto. Que eu vejo. Que eu cuido. Você que me trata. Você.

Tu. Tu que estais a me amar. A me calentar. A me abraçar. A me confiar. Tu que estais a me salvar. A me tirar do desapego. A me desassossegar. Tu que sabes do que eu gosto. Do que eu ouço. Do que eu finjo. Tu que me conheces. Que me é. Tu que me pertences.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Entre nós

Para a maior dona dos meus sorrisos. Um beijo roubado, de início. Um abraço apertado, para lhe sentir. Uma mão que aperta a sua, para confirmar... O amor.

Entre sussurros, lhe confessei meus sentimentos, há muito tempo ansiosos para se tornarem palavras - aquelas que você guardará no coração.
Entre quatro paredes, lhe disse sobre meus desejos. A cada toque, uma reação. A cada reação, um pulso. A cada pulso, um tesão. A cada tesão, a liberdade... A liberdade de lhe ser íntima, de encontrar seu íntimo. De lhe descobrir, lhe descubrir.
Entre o amor, há você e eu.

Entre o amor, me salvo... (de tentações mundanas)
Entre o amor, lhe confio... (minhas emoções)
Entre o amor, nos vemos... (de longe, como quem quer estar por perto)

Entre os passos, nosso encontro. Entre os corações, você.

Arrepio

O que é o amor, senão as semelhanças de dois corações esperançosos? Dois corações que não se completam nem se repelem, se somam, se acumulam e resultam em um sentimento só.

Você não arrepia quando sente a falta que quem lhe mudou? Você se lembra? Se lembra de mim? Não arrepia quando lhe some da cabeça quem você precisa, quem um dia lhe fez desabar sobre a vida já feita, para cambiarse? Quem lhe trouxe de volta sonhos antigos.

O esquecimento não cai - impossível. Alguém que mudou intensamente meu eu-pensante, meu eu-lírico, meu eu, eu, meu eu em você. Uma sensibilidade de tanta clareza que, de um modo tão sutil, tocou-me no mais íntimo, para fazer-me sorrir e deslumbrar-me: comigo mesma, com você.

Don't you shiver?



Para alguém de outro planeta, dentre estrelas e diamantes.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Noite

(O céu...)
Sombrio, não se faz indiferente. Faz-se impaciente.
Escuro, não se está imutável. Colore-se.
Longo, não se vê limitado. Supõe-se infinito.
Silencioso, não se ouve sua voz. Fala-se distante.
Ornamentado, não se toca. Destaca-se.

Quebra-se o ruído de sua constância. O negro torna-se azul, marinho como o mar - reflexo de si -, voltando-se para a cor da paixão, em meio ao dourado do toque, e ao azul da esperança de um novo dia.

O céu das cinco da madrugada rompe-se, derrotado, com a fúria do Sol. Adapta-se, então, para a próxima noite de habitualidades.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Olhos a curta distância

Se todos os olhos vissem como os meus, demais pensamentos seriam dispensáveis. Uma bela garota seria a perfeição, a poucos centímetros do meu rosto.

Detalhes de um corpo excitariam um coracão, e a nudez seria mais do que tesão pelo desejo. O tato aguçaria, com um rosto a poucos centímetros do meu.

Um estorvo me embaçaria; no entanto, da inquietação faz-se quase uma dávida. O que torna-se tão nítido, a poucos centímetros dos meus olhos, desenvolve-se cego, longínquo.

Visão que se confude, porém, enquanto detalhista, a tão poucos centímetros, enxerga o que não viu. A cegueira que delimita e acusa, talvez, apaixona-se pelo cego à frente.

Ventos

Alguns ventos carregam areia em seus olhos, balançam a cegueira das rugas em seus braços. Marcham suave, e seus pés levam a solidão de um carinho às avessas.

Alguns olhos, secos, irritam-se, em confronto com o vento. Aqueles protegidos - molhados por dentro - se resguardam, vencedores - um amor duradouro. Os vencidos choram - molhados por fora -, em virtude de um escudo atingido, corrompido - a paixão.

Fortes ventanias abrem caminho para os fortes, os determinados e cheios de tesão pelo sentimento: os que amam amar, que se apaixonaram pela paixão e se encantaram com o encanto do encontro com o livre desencontro. Este é o prazer.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Transeuntes

Não faz tanto tempo que a deixei em casa, na porta, e esperei que entrasse, em segurança, para que nada lhe ocorresse. Quero que tudo esteja bem. Beijei-a na testa, em sinal de respeito, e depois no queixo, para que me encontrasse depois, e fui-me.

É complicado falar sobre a paixão, se há pouco estávamos juntas, mas a saudade já me desorientou. Vejo-a na minha frente quase que fisicamente. Queria outro abraço, mais um beijo, dar-lhe as mãos novamente, morder-lhe os lábios, olhar seu sorriso escondida, uma conversa no meu ouvido, uma brincadeira só nossa, ouvir seu riso, sua voz, cantando baixinho... Quero-a, aqui, comigo.

Tanto cuidado não é em vão. O carinho excede meu corpo, perpassa as palavras, e encontra-se nas nossas mãos, entrelaçadas, enquanto somos transeuntes. Roubo-lhe um beijo, no meio da faixa de pedestres.