sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nós

Com os meus dedos entrelaçados aos do rapaz, tive que desprendê-los repentinamente. Eu não queria, mas o fiz. Na realidade... eu quis sim; quis tocar a pele da moça ao meu lado com a ponta dos meus dedos, e acariciar o seu rosto, até chegar em seus olhos. Fechá-los com as minhas palavras, e assim assustá-la quando minha boca fosse ao seu encontro. Mas isso não aconteceu. Soltei a minha mão protegida pelas mãos do rapaz, por costume, por mania.
Afrouxei o nó tão forte que havíamos feito, mas não foi difícil apertá-lo e fortalecê-lo novamente.

Lembrei-me de que o nó mais apertado é aquele feito pela pessoa fortalecida, e o mais fraco pela pessoa esquecida. Neste momento eu quis que existisse um "nós", quis permanecer com os meus dedos sob os do rapaz, e assim amarrá-los.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Profundo

Tentei privar-me do amor que a sua essência emana. Resisti contra os meus mais profundos desejos e anseios, e pensei ter criado uma barreira. Avancei, quis expandir, conquistei, debrucei-me sobre os seus contos e assim vi-me derrotada.

Oh, que baixaria de sua parte! Sempre soube dos meus segredos, talvez até antes de mim, e não avisou-me que seria difícil. Nunca encontrei-me tão persistente, em nada, e agora escavei forças do subterrâneo com as mãos. Estando aqui na superfície, temo saber como é viver lá embaixo, envolta por todos esses ares...

Nunca fui decidida, mas enquanto entrego-me inteiramente, tudo o que quero é você. Estou inundada de alegria por ter encontrado alguém para gostar, mas submersa nessa mesma fantasia. Talvez seja concreta, talvez abstrata. Estou com medo, confesso. Palavras não me salvariam. Quem sabe...

Pois não há mais caminhos para a minha volta, apenas uma direta, estreita e escura estrada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dom

Entendi qual é o meu problema. Não preciso mais que me digam quem eu sou. Deixem-me, que eu descubro.

A necessidade de distrair-me ainda é cotidiana, mas de fatos recentes, que me perseguem e me jogam numa cadeia de memórias e lembranças dolorosas. Quis tentar crescer, superar e substituir as cenas do meu filme, e o que consegui foi empilhar mais ainda os abalos e os exageros.

Decidi rever os pontos cegos, onde eu tropeçava na calçada, os buracos do asfalto, o que os tornava tão vazios e avassaladores. Foi a chuva, foram os carros, as motos, foram as pessoas, os vândalos, foram os baques, o atrito, os estranhos e esquisitos, foram os homens e uma mulher, o "para o que der e vier", foram as moças, o "deixa estar", foram os músicos, os cantores e guitarristas, os bateristas e baixistas, foram os escritores e os poetas, foi a dor e o amor, foi a arte de se apaixonar, o dom de amar.

Olhares inquietos, incessantes, famintos e críticos deram-me um dom, e assim me especializei e me afundei na única arte que predomino. Este é o meu problema: gostar demais.

Fumaça

Apenas o seu rosto através da fumaça para me sensibilizar tanto, mulher. Brinco de gostar, divirto-me com as sensações, respiro sua fumaça e expiro paz.

Caio na pegadinha do meu próprio jogo, e me perco em suas regras. Apaixonei-me pelas minhas peças, e assim elas se tornaram os jogadores.

Após um cigarro, tudo está mais evidente. Cansei-me; agora prefiro outra tática.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Incessante insônia

As noites não me dão sossego nem escolhas. Gritam por cores, prazer e entretenimento. Chamo-as de insônia, pois.

É quando vejo-me só, e o meu imo pede por hipóteses. Quanto mais explícito quer ser, mais implícito é. Quis retardar as análises, e assim fez. Agrediu e afetou seus familiares, tamanha as férias que tirou de si. Águas passadas, nunca mais serei a mesma.

Cicatrizes não me exteriorizam mais, são apenas marcas e recordações, não poços de interpretações. Leio em meu corpo a resistência e a persistência, e entendo o porquê de clamar secretamente por mudanças.

As noites testemunham a inquietude do meu verdadeiro ser. Apenas sou eu mesma quando é de madrugada.