quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sperare

Que um dia eu possa sanar o meu silêncio.

A voz sai e volta - speculum - especula sobre os sentimentos que outrora eram luz, mas agora são esperanças, que vão... Que se vão...

Spero. Spes.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Asas

Agradável seria ter asas, para voar pelo céu em dias claros, acompanhando o movimento das nuvens. Ter a ilusão de alguma consistência e me deitar nas nuvens, para cair em falso. Fingir que são leitos, e confundir sua maciez alva com sonhos de um dia ensolarado.

Excitante seria ter asas, velozes, para protestar contra o mundano e traiçoeiro. Para correr em direção ao solo, como se as asas fossem pés de um corredor, como se o vento que me confronta fosse o corredor do limite da vida. Fazer como se fosse suicídio. Pretender um choque, mas surpreender a poucos metros do chão, e voar, de novo, para o céu.

Gentil seria ter asas, e voar, planar, como um aviãozinho de papel, de acordo com a brisa, maestra, sobrevoando um planalto - terra plana, terra lisa, terra de quem quer ver o céu sem restrição. E calmamente, olhar para baixo, para àqueles que me olham também. Sentir-se ao mesmo tão grande quanto pequeno. Tão igual.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Voar é...

Eu só preciso que você me tranquilize. Sua voz é capaz de fazer levitar a pedra que se apoia nos meus ombros.

Quero lhe ouvir por muito tempo. Faço um desejo para cada milagre de Deus, só para poder lhe escutar um pouco mais. Uma palavra sua, acho, até eu poderia voar. Pense em uma lembrança boa. Já sei a minha. Pensou? E agora, vai vir comigo?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sonho

E eu acordei.

Abri os meus olhos. Pus os meus pés no chão; e isso foi como uma epifania. Continuei sentada na cama, e foi como um momento de reflexão.
Se um sonho não é capaz de persistir, não há porque continuá-lo sonhando. Se não existe uma continuação, ou na vida, em si, não é um fato que possa ser consumado, se possível, acorde.

É um alerta.

Meus primeiros passos foram os mais difíceis - estavam de luto. Testemunharam a morte de um sonho.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crer para ver

Eu não conheço a Raiva. Não gostaria de ter uma amizade com alguém cujo nome se inicia com uma consoante tão complicada quanto o "r" - em cada parte do mundo é de um jeito, de um diferente tipo de esforço.
Mas é do feitio dessa pessoa aparecer, puxar uma conversa, mesmo você querendo distanciar-se; mas ela não deixa. A Raiva é persuasiva, cabeça manipuladora, lhe dará vingança em troca de sua alma. Apoderar-se-á dela, e lhe deixará fora de si. E você nem perceberá quando tiver deixado sua paz de lado.

Ah, isso sim... Conheço alguém, uma grande amiga minha, que sabe bem do que falo. Desgosta da Raiva, tanto quanto eu, e jamais tive notícias de um ser tão pacificador. Calma, sua inicial é simples - seu som é preciso, bonito quando tem de ser, tranquilo como o silêncio. Ela é como o mar em um dia ensolarado: uma vastidão sem fim que vai e volta, e quando vem forte, acaba-se logo o que não deu para aguentar. O que o mar não suporta? Ela absorve o que vem de ruim, e consegue tirar de cada situação sua própria calmaria - é tudo tão belo, e o que não for... Bom, é a vida!

Mas não se vive somente de uma dessas amizades, e quem me ensinou tal lição foi a Crença. É tempestuosa como a Raiva, e segura como a Calma. O primeiro encontro consonantal de seu nome é de um único som em todo o planeta. Essa menina, criança, não é bonita nem feia, mas adequada a qualquer visão. Não desperta paixão ou atenta à fuga alheia, é confiante de si, e suas melhores armas são as suas palavras. É capaz de convencer a qualquer um a ter ideais puros. Diferente da Raiva, não é universal, é individual. Mas é revolucionária. E para saber levar adiante uma vida assim, leva consigo sempre uma felicidade, para suportar qualquer trapaça do acaso ou do destino; de tal modo como a Calma,
A Crença me fez ver que não há sentimento mais completo do que o amor. E além desse, o próprio.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Gênero

Se eu o encontrei outro dia, lhes conto que não foi por acaso, nem pelo destino, mas por minha vontade. Eu o procurei, o persegui, e o encontrei. Talvez não da maneira como eu queria, nem como eu gostaria, mas estava lá: ele. Tão rápido que mal pude entender cada detalhe do seu rosto, ou gravar sua voz e suas desculpas pelo atraso. Mas estava lá; estive com ele. Em meio a tempos turbulentos, achei o atalho que me levava a ele. Que seja se quase nos esbarramos todos os dias, nossas visitas são feitas do desencontros. Mas eu o achei, sim. E não o prendi. O amor não é nenhuma grande verdade quando somos seres egoístas.

E nesse encontro eu não soube ao certo o que fazer. Se eu diria "adeus" ou "arriverdeci", eu não soube distinguir. Pois amá-lo era a melhor coisa para mim - eu conseguia ser eu mesma, e até brincar com a irresponsabilidade. Mas sempre foi o nó da minha garganta. Eu nunca soube com o que lidar.

Em um instante, minha dúvida se revelou, quase epifanicamente. A vida de um poeta não me servia, anotei. Então eu disse ao rapaz - até então o único que eu desejava poder viver pelo resto da minha vida - que eu estava prestes a me casar (sim!). Mas vejam bem, não com ele, com outro. Talvez fisicamente, não apenas oniricamente. Não saberia de meus sentimentos, notei seguidamente. Mas eu sim, eu sei. Agora, certamente, me despedirei e direi um breve "adeus".

O motivo de tanto lío seria a realização de que dentre sonhos, a vida não é feita para se viver. O que está a minha frente jamais seria um "ele", mas sim um...