terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cega

Meu coração acelerou, inflou de ânsias. E eu só tinha pensado na menina. Só tinha lido o seu nome; o reflexo das letras no meu óculos, na noite escura - apenas a luz do celular acesa. Nada de mais, palavras trocadas... E meu coração disparou, encheu de ar, como o ar de quem se inspira, inspira e respira o rastro deixado da pessoa querida. E eu só tinha falado para a menina um pouco do meu momento. Só tinha lhe dito parte de quem eu sou. Então o coração estourou, se dissipou, os ventos - furacões e tornados - se dissolveram, sumiram e causaram destruição, transtorno nas cidades, até nos mais simples povoados que cercam este coração... que um dia se iluminou com um nome.

As luzes se apagaram, e eu dormi. No dia seguinte não precisei mais de óculos para enxergar o nome da menina, mas meu coração me disse que cega estou. A menina não existe. A razão não existe. O coração se enganou e tropeçou, às cegas, por uma paixão que o desequilibrou.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O toque de ouro

(...)

- O que Vossa Excelência prefere: comida e um copo d'água fresca ou essas pedras de ouro? - disse o estranho.

O Rei Midas não conseguiu responder.

- O que prefere ter, ó Majestade? Aquela estatueta de ouro ou uma menina que pode correr, rir e amá-lo?

- Ah, devolva-me minha filhinha Áurea e eu abdicarei de todo o ouro que tenho! - disse o rei. - Perdi a única coisa que realmente me valia ter.

- Vossa Excelência demonstra agora mais sabedoria do que antes - disse o estranho. - Vá mergulhar no rio que passa nos fundos do jardim, e depois leve um pouco da água para jogar sobre tudo aquilo que deseja ter de volta ao normal.

O estranho, então, desapareceu.

O Rei Midas levantou-se rapidamente e foi correndo até o rio. Mergulhou, pegou um bocado de água e retornou ao palácio. Jogou-a sobre Áurea e as cores voltaram a iluminar seu rosto. Ela tornou a abrir os olhinhos azuis. - Ora, papai! - disse ela - O que aconteceu?

Chorando de alegria, ela a pegou no colo.

Depois disso, o Rei Midas nunca mais se preocupou com ouro algum, a não ser o ouro que existe no brilho do sol e nos cabelos da pequena Áurea.



Adaptação de O livro das maravilhas, de Nathaniel Hawthorne.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Saudade

Recorrer à nostalgia não é uma agradável maneira de se passar uma noite, ao som de um violão. A chuva está em segundo plano... Sempre esteve.

O amor não é nenhuma grande verdade, quando se trata de nós duas. O que se passou, então, com tão intenso sentimento, duradouro, que marcou uma dor chamada distância, e um coração chamado comunicação? Cantorias não se resolvem mais, a felicidade jamais foi tão fulgaz, a alegria não foi mais tão recorrente aos meus sorrisos. Sim, eu me alegrei, e muito, com a vida e seus rios, com sua vida.

O que seria, então, essa agudez que corta o peito? Se tudo já se foi, não haveria motivos. Nunca acreditei que seria real, mesmo após os sonhos terem cessado. Eu pedi, roguei, implorei. Não tem reciprocidade nesta minha saudade.