Tenho medo constante. Como se estivesse sendo seguida, observada. Possuída. No escuro, não me basta acender uma vela e os demônios se esconderão. Me esperaram na porta do meu quarto, para onde vou correndo toda vez que escurece. É o meu refúgio. Onde meus santos estão livres do meu corpo e a alma pode tornar-se ânima. Meus deuses poetas estão libertos, mas o apelo às musas inspiradoras não os tem animado muito. São tantos os demônios na porta do meu quarto que a comunicação espiritual resulta ínfima. Da informação, eles colhem o que há de mais vivo, e o tártaro o deixam lá. Lá no Tártaro. É onde estão meus ânimos.
Sinto que os demônios conseguiram invadir meu bucólico campo, e não há mais ninfas que os queimem. Onde me esconder, onde me refugiar, se o bucólico já não o é mais. É urbano. Foi invadido. Nem em cantos amebeus sou capaz de desafiar os meus demônios. Nem em versos livres. Perdi meu argumento, minha oração, minha palavra. Agora sou gestos.
Muda, meus demônios não me acharão. E se me virem andando pelos clarões da cidade, eu, sem voz, não me possuirão. Dentro de mim, é onde me resta ânima.
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