sábado, 20 de abril de 2013

Ana Guadalupe

no quarto escuro


no quarto escuro não importa
se lá fora faz calor ou chuvinha
se são os zumbis ou as crianças da vizinha
às vezes dá na mesma
viver antes ou agora
nada existe no quarto escuro
se abrisse as janelas veria o cerrado
ou a caatinga ou o livro de geografia
aberto na página setenta
sobre a mesa onde está o quarto
ou então nada disso
veria londres ou nova iorque
grampeadas a um folheto de intercâmbio
aos pratos e bebês chorando
com molho vermelho pingando dos cantos
felizmente o quarto continua seguro
cobertores e travesseiros garantem em coro
que dá até pra mudar de nome no quarto escuro
na semana passada meu sobrenome era outro
e as horas de sono chegavam a 28
no quarto escuro não importa
se as janelas não são abertas há um ano
se é chuva de vento ou a tempestade do século
se lá fora você anda sem sombrinha
e vai acabar morrendo de pneumonia
por negligência minha

Nenhum comentário:

Postar um comentário