segunda-feira, 20 de julho de 2015

Allen Ginsberg

Canção


"O peso do mundo
         é o amor.
Sob o fardo
       da solidão,
sob o fardo
      da insatisfação


       o peso
o peso que carregamos
        é o amor.


Quem poderia negá-lo?
          Em sonhos
nos toca
      o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
         na imaginação
aflige-se
         até tornar-se
humano —


sai para fora do coração
         ardendo de pureza —


pois o fardo da vida
          é o amor,


mas nós carregamos o peso
           cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
          finalmente
temos que descansar nos braços
           do amor.


Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor —
           quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
           ou por máquinas,
o último desejo
          é o amor
— não pode ser amargo
         não pode ser negado
não pode ser contido
           quando negado:


o peso é demasiado

          — deve dar-se
sem nada de volta
         assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda a excelência
         do seu excesso.


Os corpos quentes
          brilham juntos
na escuridão,
          a mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
          na felicidade
e a alma sobe
         feliz até o olho —


sim, sim,
           é isso que
eu queria,
          eu sempre quis,
eu sempre quis
         voltar
ao corpo

         em que nasci."
me resta tanto a dizer, a tantas pessoas,
tanta pele a ser descamada, tanta luz a ser bem iluminada,
que não sei nem aonde escrever: em um caderno, para que eu possa
lhe entregar a minha letra, e para que você possa completar
meu pensamento com um desenho?
com um gesto, um movimento? ou com o silêncio?

domingo, 19 de julho de 2015

escuridão entre linhas

na escuridão eu sei que deveria acender uma luz, e por mais que você continue falando comigo sobre todos aqueles vivos e mortos que não compreendo, tateio na cômoda o interruptor do abajour, e por mais que eu não saiba falar francês ou alemão, não quero ter de dizer em outras línguas que meu coração fala com o olhar, mas na escuridão você provavelmente não sabe se eu te fito intensamente ou se meus olhos descansam, até sua visão se acostumar, e assim adaptando-se, percebo que não sei lidar com muitas questões, enquanto estamos na cama, com a luz da lâmpada virada para cima, para não nos ofuscar ou nos por em holofotes, e entendendo de tal maneira, não sei realizar se você realmente está à minha frente ou é se sou eu que me encaro e, apesar da escuridão, sei exatamente quem sou onde sou o que penso com quais intensidade e pausas eu conecto o mundo e minhas impressões. você sou eu, eu sou a luz, minha leitura são minhas palavras, minha voz é minha boca, minha compreensão são meus ouvidos, meu gosto é meu paladar, minha acidez é minha vivacidade, meu vômito é cinza, e meu cotidiano não é arte, é cabeça contra parede. sou verborrágica porque não sei mais o que eclodir, não capacito para onde lançar-me. não sei a qual linha me anoto, qual caverna desenhar para me isolar de um mundo de escolas literárias que não me encaixo nem em batidas, nem em câmeras, ou pinturas, ou canções. qual luz deverá ser a positiva ideia da existência que me tirará o sofrimento da rachadura do meu crânio, este que se volta ao muro quase por automático instinto, que me mantem desperta, porém desejosa de grandes sonhos, mas que não sejam reais, muito menos pictóricos, mas surrealistas, em outras membranas. na escuridão, eu sei, só quero sair daqui.

sábado, 18 de julho de 2015

A poeira, se varrida para debaixo do tapete,
igualmente me fará espirrar -
    alergia, lisergia, hemorragia
                               do meu coração outrora de outro poderio,
                 da alternância de autoridade, austeramente,
    atchim.