domingo, 19 de julho de 2015
escuridão entre linhas
na escuridão eu sei que deveria acender uma luz, e por mais que você continue falando comigo sobre todos aqueles vivos e mortos que não compreendo, tateio na cômoda o interruptor do abajour, e por mais que eu não saiba falar francês ou alemão, não quero ter de dizer em outras línguas que meu coração fala com o olhar, mas na escuridão você provavelmente não sabe se eu te fito intensamente ou se meus olhos descansam, até sua visão se acostumar, e assim adaptando-se, percebo que não sei lidar com muitas questões, enquanto estamos na cama, com a luz da lâmpada virada para cima, para não nos ofuscar ou nos por em holofotes, e entendendo de tal maneira, não sei realizar se você realmente está à minha frente ou é se sou eu que me encaro e, apesar da escuridão, sei exatamente quem sou onde sou o que penso com quais intensidade e pausas eu conecto o mundo e minhas impressões. você sou eu, eu sou a luz, minha leitura são minhas palavras, minha voz é minha boca, minha compreensão são meus ouvidos, meu gosto é meu paladar, minha acidez é minha vivacidade, meu vômito é cinza, e meu cotidiano não é arte, é cabeça contra parede. sou verborrágica porque não sei mais o que eclodir, não capacito para onde lançar-me. não sei a qual linha me anoto, qual caverna desenhar para me isolar de um mundo de escolas literárias que não me encaixo nem em batidas, nem em câmeras, ou pinturas, ou canções. qual luz deverá ser a positiva ideia da existência que me tirará o sofrimento da rachadura do meu crânio, este que se volta ao muro quase por automático instinto, que me mantem desperta, porém desejosa de grandes sonhos, mas que não sejam reais, muito menos pictóricos, mas surrealistas, em outras membranas. na escuridão, eu sei, só quero sair daqui.
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