domingo, 19 de junho de 2011

Não

Eu nunca soube o que de fato escrever quando começo a escrever. Mas por que eu deveria escrever sobre algo escondido sem explicitá-lo no texto? Por que é tão difícil falar assim? A escrita não é a expressão do pensamento? Mas por que? Não sou romancista, não quero ser analisada. Só quero dizer. Dizer e escrever. Pensar, escrever e dizer. Pensar. Eu só penso, eu não digo. Eu não escrevo. Penso para mim, digo para mim, escrevo para mim. É tudo secreto, no meu mundo é tudo grande, mas nos outros mundos são só detalhes. Vivo dos detalhes, do discreto e do sutil. É tudo pequeno demais. Meus sonhos são pequenos, mas são fortes. São fortes demais para serem grandes. São ideas muitos extensas, que não se resumem, não cabem em lugar algum senão em mim.

O que eu penso ningém mais pensa igual. Eu também vivo do "não sei". Não sei me expressar, então estou sempre errada. O que eu faço, é mal intencionado. O que eu penso - sou ingênua. Sou ingênua, sem maldade; na verdade eu pensava era em violência. Eu quero me enaltecer, parecer bonita; é auto-mutilação, é provocação. Eu não sei o que fazer para ser uma pessoa clara. Clara e objetiva. Eu não sei. Não sei ser útil e amável, não sei conversar, não sei agradar. Não sei ser outra pessoa. Não sei dançar, não sei me explicar, não sei ter expressão. Ah, se vissem o que eu penso. Se vissem o que eu penso me amariam. Se me amam, foi acaso. Mas me deixam. Sempre me deixam. Me deixam porque eu os deixo. Porque eu não sei manter. Não sei manter organização, ou uma relação qualquer. Não sei ser contínua. É tudo inércia. É tudo inerte.

Não cabe em meu corpo motivos suficientes para ser bela. É auto-mutilação, não é? Que importa, se for tudo assim, um prazer? É o vício, que tomou conta de mim. É o meu momento de interiorização. O que mais? É querer se machucar, chamar atenção. Ser notada. Que eu me lembre eu vivo da discrição. Não há como ser percebida.

Eu não falo. Não sou ouvida, não falo. Não falo em vão para não aborrecer. Não falo para quem me despreza. Um em mil. Alguém há de me ouvir. Tem que ter alguém. Alguém me ouve, quer me ouvir. Sim. Eu falo só para esse um. Tem alguém que sabe de mim, mas eu ainda não sei. Sou, ao mesmo tempo, acaso e destino. Sou, na verdade, uma vírgula mal colocada em um período longo. Mas eu aprendi a não dizer. A cada "não", eu sou menos. Eu penso mais, eu falo menos. A cada "não", eu vivo mais para mim. A cada "não", eu durmo mais. Se eu durmo mais, eu vivo menos. Se eu vivo menos, eu sonho mais. Se eu sonho mais, os sonhos se tornam maiores. Se os sonhos se tornam maiores, eles se confundem, porque são pequenos. Se os sonhos se extendem, eles se confudem, eles se bagunçam, eles se rompem. Eu sou uma bagunça, sou o più o meno. Sou o quarto desorganizado, a casa empoeirada, que não é varrida há um mês. Sou o espirro da pessoa que adentrou nessa casa.

Sou cada "não" que dizem por aí.

Um comentário:

  1. É de intensidades-suaves que se vive... (não, isso também não é para todos)

    ResponderExcluir