domingo, 20 de outubro de 2013

Corte

Não penso em descobrir como é cortar a pele humana, escolher uma faca, afiá-la e enfiá-la. Arrastá-la. Aprofundá-la, e arrastá-la mais. Só consigo imaginar. Descobri como é cortar papelão com um estilete, e com canetinha vermelha minha imaginação voou até um filme de suspense. Desses que eu tremo só de ouvir a música do suspense, e grito junto com a vítima - ela agora morta e eu aqui, com medo e com as mãos tampando os olhos: não quero ver. Mas agora eu me imagino no lugar do assassino, cortando uma vítima de papelão. Pode ser o meu rosto, o meu corpo, um boneco de palitos, um desenho surrealista, ou com cortes retos, algo de cubista. E de um papelão grande eu me cortei, porque a vítima sou eu, desenhada com canetinhas esferográficas. E talvez depois disso eu queira experimentar em mim, mas é como nos filmes, a ideia de cortar a pele me deixa nervosa; nem cogito. O que é péssimo, porque eu adoraria, porque não sou uma pessoa violenta.

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