sexta-feira, 26 de junho de 2015

Líquida

Estava líquida, quando me vi no espelho.
As pessoas do espelho se escondiam atrás de mim
e me deram alô quando saí da minha frente.
Elas me diziam: "saia de si, o que se liquidifica,
evapora, solidifica, vira pó e vira mente."
E eu entrei pela torneira, pelo encanamento,
cheguei ao esgoto e virei efluente,
caí no rio, mergulhei até as profundezas mais tóxicas,
nadei até o mar, e virei maresia e maremoto.
Devastei algumas terras, haviam corpos que boiavam em mim.
Escombros e animais. Poeira se diluía em mim.
Virei melancolia, vaporizei, virei nuvem,
vento e tornado.
Caí na boca de um vulcão, virei lava,
virei viscosa, por aí fluí por mais tempo de quando era pessoa.
Morri, anos depois, de erupção vulcânica do tipo efusivo.

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