domingo, 27 de novembro de 2011

A via

Se o caminho é desigual, é que um lado da vida está sobreposto ao outro.
Se o caminho é atemporal, é que uma lembrança da vida está mais exposta que as demais.
Se o caminho é vital, é que uma parte do coração vive mais.
Se o caminho está pesado, é que falta seus cigarros na minha bolsa. Eu caminho vazia, bolsa vazia, mente vazia. A vestimenta sou eu. Os sapatos são meus pensamentos. São as ideias que percorrem pela via chamada vida.

Se seus sapatos carregam cigarros, sua mente está em fogo, e as ideias são fumaça.
Seus cigarros guardados, a mente descansa.
Seus cigarros na minha bolsa e seus sapatos são novos.
Seus cigarros comigo, e seu coração não é meu.
Seus cigarros comigo, estou eufórica.

Eu sou eufórica longe da paz.
Paz é equilíbrio.
Se o caminho é desigual, o caminho está em desequilíbrio.
Se o caminho é desigual, não vejo você para equilibrá-lo.
Paz é equilíbrio.
Paz é você.
Eu sou eufórica longe da paz.
E meus cigarros se acabaram nessa via chamada vida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cigarro

Voltando da estrada, parei na esquina fria, às 6 horas da manhã, para fumar, pensar; dançar para esquentar; dançar para acordar; dançar para me lembrar; dançar para me fechar; dançar para cantar... Cantar aquela canção que tanto dizia sobre vencer e viver, dançar aquela canção que tanto queria ser o que era caber e ceder, tocar aquela canção que eu tanto sentia que era perder e pender. Pensar sobre pendências, vivências, imensas promessas, conversas imersas na neblina da nuvem do nenhum... Nenhum lugar, nem para amar, nem para almejar, nem para crescer, nem para suspender, ou emergir, diminuir, ou rir. Pensamentos propensos, pretenciosos, dispostos, impostos pela oclusão da glote, gutural, de um grito que vem da garganta, que arranha, e vela, veloz, vem vindo, o vento do pulmão, para os lábios, vorazes, da voz. Vem de cor. Cor de coração. Cordis. Cordial. Dinamite que dilata dentre os dentes. E sai... A fumaça, e foi-se com o fogo, suave, sensitiva, sem sentido, sem ferocidade, sem mais velocidade, acabou-se a invenção, saiu toda a fumaça da feminilidade. Fui-me porque cigarro acabou.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O menino

O menino é um homem, mas não aparenta. Senta no banco, senta ao meu lado, me passa um cigarro, e dividimos a fumaça. Fica de pé, o menino, e diz palavras de homem, se porta como um menino, bagunça o cabelo, e sorri, feito um moleque. Me mostra sua arte, me conta empolgado, e sentado do meu lado, me agasalha.
O menino não me abraça, mas o homem me segurou forte. O menino não me beija, mas o homem me enlaçou. O menino não me dá suas mãos, mas o homem as acariciou.

O menino não dormiu esta noite, e o homem encarnou.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Águas

A cabeça cheia é a cabeça vazia.

O som costuma ser abafado e só se ouve o correr das águas. O que realmente importa fala baixo. A correnteza é forte.
A mente se inunda de rios - água doce -, convenientes, correntes, largos. Desembocam num mar chamado olhos, de água salgada. O sal, o qual faz arder as feridas do desbravadores das ideias, sujeitos marítimos, ao sentirem a dor, despertam de um sonho de navegadores para a realidade dos mergulhadores: são pescadores, ou caçadores de conhecimento.
O mar, aquele que se extende de um corpo para fora, de uma lágrima de sofrimento para a sabedoria de um mundo. Por fim, entende-se a vida de um pensador.