Escuta-se os fortes passos no piso de madeira, apressados, inquietos, penetrando os ecos da vazia casa. Passos que interpretados dirão o quão rápidos querem estar, mas que vistos verão o quão solitários estão.
Afundam o assoalho de tão grosseiros, de tão altos, de tanto berrarem em busca de passos semelhantes; ou tão infelizes quanto. Querem companhia, querem um som a mais. Estão cansados de ouvirem seus próprios sapatos todos os dias, todas as noites.
Andam em círculos, vagueam pela casa, adentram nos cômodos; em vão, sabem disso, pois não há nada naquela vazia casa abandonada. Tudo o que havia de precioso foi-se. Objetos que o tempo levou, lembranças que vidas passadas esqueceram, e vestígios de amor. Os passos cessam ao verem aqueles mesmos rabiscos escritos na parede da sala; aqueles feitos nos tempos em que os passos eram tranquilos, delicados e serenos.
Estes passos não aguentam mais andar. Querem liberdade, querem estar do outro lado da porta; mas sempre que tentam escapar, são rebatidos pelos seus próprios ruídos. Querem sair, mas não querem abandona-la.
Passos amigos nunca os ouvirão. Nem a súplica salvará.
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