sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Espero uma notícia boa

Espero uma notícia boa
do homem a quem me submeti;
aguardo a revelação das nuvens
para o homem a quem me entreguei;
rogo para que a noite lhe calme os olhos
do homem que me sucumbiu;
espero uma notícia boa
de quando me reerguer,
espero uma notícia boa
que venha de dentro de mim,
espero uma notícia boa
de tempos de força,
espero uma notícia boa
que seja em forma de luta.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Gioconda Belli

Y Dios me hizo mujer

Con curvas
y pliegues
y suaves hondonadas
y me cavó por dentro,
me hizo un taller de seres humanos.
Tejió delicadamente mis nervios
y balanceó con cuidado
el número de mis hormonas.
Compuso mi sangre
y me inyectó con ella
para que irrigara
todo mi cuerpo;
nacieron así las ideas,
los sueños,
el instinto.
Todo lo que creó suavemente
a martillazos de soplidos
y taladrazos de amor,
las mil y una cosas que me hacen mujer todos los días
por las que me levanto orgullosa
todas las mañanas

y bendigo mi sexo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Não-dito

Para todo o meu não-dito,
me distancio do silêncio e
acendo uma vela de arruda e sal grosso.

Para todo o meu indizível,
me aproximo da linguagem e
desenho com os olhos minha voz fraca.

Para toda a minha memória,
me adentro no plano astral e
visito a arquitetura dos meus sonhos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Raposa atrapada

Ciclos críticos são
concretos na repartição entre raposas,
a feroz e a mansa,
 para o grande pai.

Intracircular, no micro são linhas tortas,
dubitáveis, contornam a outros ciclos,
 e muitas vírgulas são postas aquém da pausa.

A jovem raposa, quando de olhos abertos,
 sente o peso de suas mais sensoriais escolhas.

 Egoicamente, ela é raposa, e o ser são máscara de tragédias e fábulas.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Allen Ginsberg

Canção


"O peso do mundo
         é o amor.
Sob o fardo
       da solidão,
sob o fardo
      da insatisfação


       o peso
o peso que carregamos
        é o amor.


Quem poderia negá-lo?
          Em sonhos
nos toca
      o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
         na imaginação
aflige-se
         até tornar-se
humano —


sai para fora do coração
         ardendo de pureza —


pois o fardo da vida
          é o amor,


mas nós carregamos o peso
           cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
          finalmente
temos que descansar nos braços
           do amor.


Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor —
           quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
           ou por máquinas,
o último desejo
          é o amor
— não pode ser amargo
         não pode ser negado
não pode ser contido
           quando negado:


o peso é demasiado

          — deve dar-se
sem nada de volta
         assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda a excelência
         do seu excesso.


Os corpos quentes
          brilham juntos
na escuridão,
          a mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
          na felicidade
e a alma sobe
         feliz até o olho —


sim, sim,
           é isso que
eu queria,
          eu sempre quis,
eu sempre quis
         voltar
ao corpo

         em que nasci."
me resta tanto a dizer, a tantas pessoas,
tanta pele a ser descamada, tanta luz a ser bem iluminada,
que não sei nem aonde escrever: em um caderno, para que eu possa
lhe entregar a minha letra, e para que você possa completar
meu pensamento com um desenho?
com um gesto, um movimento? ou com o silêncio?

domingo, 19 de julho de 2015

escuridão entre linhas

na escuridão eu sei que deveria acender uma luz, e por mais que você continue falando comigo sobre todos aqueles vivos e mortos que não compreendo, tateio na cômoda o interruptor do abajour, e por mais que eu não saiba falar francês ou alemão, não quero ter de dizer em outras línguas que meu coração fala com o olhar, mas na escuridão você provavelmente não sabe se eu te fito intensamente ou se meus olhos descansam, até sua visão se acostumar, e assim adaptando-se, percebo que não sei lidar com muitas questões, enquanto estamos na cama, com a luz da lâmpada virada para cima, para não nos ofuscar ou nos por em holofotes, e entendendo de tal maneira, não sei realizar se você realmente está à minha frente ou é se sou eu que me encaro e, apesar da escuridão, sei exatamente quem sou onde sou o que penso com quais intensidade e pausas eu conecto o mundo e minhas impressões. você sou eu, eu sou a luz, minha leitura são minhas palavras, minha voz é minha boca, minha compreensão são meus ouvidos, meu gosto é meu paladar, minha acidez é minha vivacidade, meu vômito é cinza, e meu cotidiano não é arte, é cabeça contra parede. sou verborrágica porque não sei mais o que eclodir, não capacito para onde lançar-me. não sei a qual linha me anoto, qual caverna desenhar para me isolar de um mundo de escolas literárias que não me encaixo nem em batidas, nem em câmeras, ou pinturas, ou canções. qual luz deverá ser a positiva ideia da existência que me tirará o sofrimento da rachadura do meu crânio, este que se volta ao muro quase por automático instinto, que me mantem desperta, porém desejosa de grandes sonhos, mas que não sejam reais, muito menos pictóricos, mas surrealistas, em outras membranas. na escuridão, eu sei, só quero sair daqui.

sábado, 18 de julho de 2015

A poeira, se varrida para debaixo do tapete,
igualmente me fará espirrar -
    alergia, lisergia, hemorragia
                               do meu coração outrora de outro poderio,
                 da alternância de autoridade, austeramente,
    atchim.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Líquida

Estava líquida, quando me vi no espelho.
As pessoas do espelho se escondiam atrás de mim
e me deram alô quando saí da minha frente.
Elas me diziam: "saia de si, o que se liquidifica,
evapora, solidifica, vira pó e vira mente."
E eu entrei pela torneira, pelo encanamento,
cheguei ao esgoto e virei efluente,
caí no rio, mergulhei até as profundezas mais tóxicas,
nadei até o mar, e virei maresia e maremoto.
Devastei algumas terras, haviam corpos que boiavam em mim.
Escombros e animais. Poeira se diluía em mim.
Virei melancolia, vaporizei, virei nuvem,
vento e tornado.
Caí na boca de um vulcão, virei lava,
virei viscosa, por aí fluí por mais tempo de quando era pessoa.
Morri, anos depois, de erupção vulcânica do tipo efusivo.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Federico García Lorca - 4

"DIRECTOR. Eso es precisamente lo que se hace en el teatro. Por eso yo me atreví a realizar un dificilísimo juego poético en espera de que el amor rompiera con ímpetu y diera nueva forma a los trajes.
PRESTIDIGITADOR. Cuando dice usted amor yo me asombro.
DIRECTOR. Sea sombra, ¿de qué?
PRESTIDIGITADOR. Veo un paisaje de arena reflejado en un espejo turbio.
DIRECTOR. ¿Y qué más?
PRESTIDIGITADOR. Que no acaba nunca de amanecer.
DIRECTOR. Es posible.
PRESTIDIGITADOR. (Displicente y golpeando la cabeza de caballo con las yemas de los dedos.) Amor.
DIRECTOR. (Sentándose en la mesa.) Cuando dice usted amor yo me asombro.
PRESTIDIGITADOR. Se asombra, ¿de qué?
DIRECTOR. Veo que cada grano de arena se convierte en una hormiga vivísima.
PRESTIDIGITADOR. ¿Y qué más?
DIRECTOR. Que anochece cada cinco minutos."


Do livro: El Público.
Acolhimento é eletricidade.
Quando me recolhes em teu corpo,
meu beijo é choque e o teu é mar.
A faísca é tinta que me pintas
de brilhante, pigmentos à prova d'água.
O atrito é insólito, duas embarcações
em busca do mundo novo, é maremoto
que nos traz aceleradas à descoberta.

Refúgio é cais.
Qualquer tempestade não me tombará.
Enquanto me proteges com tua brandura,
e me olhas com ternura arrebatada,
não me tornarei sereia de circuitos,
não desmantelarei caminhos de outrem,
não cairei em aquários que não o teu.

sábado, 23 de maio de 2015

Intenso vulcão

Intensa nos pormenores,
tira essa ferpa de canto de unha.

Febril na mais suja digital,
arranca essa casca da pele,
sangue estancado,
dor viva inerte.

Pequeno vulcão,
explode em detalhes,
escorre até meus pés,
lava quente,
me levanta desse chão,
me faz uma rocha,
me transforma num mar
vermelho escuro,
afasta e une,
espanta e solidifica,
cicatrizes pelo caminho,
corpo.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Introducción a la Bohemia

Resulta que uno de los factores que se destaca entre los bohemios españoles es, precisamente, la conciencia viva que ellos mismos tenían de su propia situación social: sólo por ser «jóvenes ansiosos de cultura» eran socialmente marginados. Presumiendo que la creación se concibe como rebelión» (sobre todo respecto al arte y la literatura, según ellos contra la pereza mental de su tiempo), no estaban integrados en la sociedad burguesa pero por lo menos, desde el margen y apartados del canon, tenían libertad. El continuo análisis de sí mismos y sobre todo su sentido anticanónico de la modernidad nos recuerda que, durante el fin del siglo XIX, oponerse al canon conscientemente «en esta tierra inhóspita, que no ama a sus cantores» (Buscarini), equivalía a cultivar la capacidad de actuar y escribir libremente, sin rendir homenaie a las obligaciones sociales o costumbres culturales.


Introducción a la Bohemia, Dossiers Ferninisfes,10, 2007, 13-21.

domingo, 10 de maio de 2015

Coração

Sem cargas d'água de saber
o porquê de ser insuficiente
meu caráter cardíaco.
Mistério em reconhecer
o motivo de manter
carícias como mantras.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Calderón de la Barca

"Segismundo: (...)
Yo sueño que estoy aquí
de estas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son."

Do livro: La vida es sueño

quarta-feira, 22 de abril de 2015

El ratón

Todos vestem preto,
a língua também se escurece.
No más que repentino,
todo lo negro viene a la luz.
Se hizo la palabra,
y la palabra era luce.
Aún todo sigue muy estranho,
hay humo en toda parte.
Pues espera un rato...
que vejo um rato pelas ruas,
que em todas as ruas, de todas as cidades,
existem ratos pelos bueiros,
na sarjeta, ratones de lenguas grandes,
Espera un rato más,
que lo veo en un rincón
cinza-gris, dentro de un cenicero,
el ratón me dice, entre caladas,
entre lenguas que no se entienden entre sí:
- qué ciudad es esa que todo suena lo mismo?
- por que não vejo nada?
- estoy perdido, perdidinho.
E o rato, ao terminar seu cigarro,
corre pelo subterrâneo,
a enfrentar as fronteiras del más allá de lo dicho.
Se va a una ciudad donde distinguen colores de blanco,
tons de preto, de azul, de arco-íris,
donde las artes se mezclan en gestos,
em atos, em falas, em imagens e em música,
sons da rua, pixos no alto, grafites que andam,
donde la lengua es una sola: universal.
Y esa ciudad se halla en el medio
del mayor sendero jamás visto:
búscala, sigue a los ratones,
e um dia virá à terra.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Águas não passadas

Pensei ter encontrado
uma camiseta preta velha no fundo do rio, mas era um vulto marinho, fantasma sereia, minha sombra projetada na profundeza.

Achei ter avistado
o outro lado do oceano do alto do meu prédio, mas eu via uma alma andante, intercultural, no fim da rua.

Acreditei ter abafado
todos meus gritos debaixo da cachoeira, mas eu fui ouvida, porém pranto rejeitado.

Cogitei ter descoberto
maneiras de me desafogar das vontades ansiosas, sabedoria, sublimar criação, mas este é só o primeiro passo para além da aceitação.

Suportei ter de aceitar
lidar com a decisão alheia, afogo, engasgo, cuspo, respiro, dor, mas esta é quase a superfície do que é gostar do outro.

Tempo

Tenro tempero
terna tempestade
tempo.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Refúgio em meus olhos

Buscou refúgio em meus olhos.
De cinza a cinza eu vi decair
seu olhar às minhas mãos;
e eu não soube amparar seu cigarro tão viciado.

Buscou refúgio em meus olhos.
Do negro ao azul eu vi o dia recompor
suas lágrimas que vieram sutis;
mas eu não tenho guarda-chuva para nós dois.

domingo, 5 de abril de 2015

Esperar

Espero pelas beiradas,
amanhece no horizonte,
o dia se cai, o sol é quente,
acontece no horizonte,
o tempo é astuto, perpétuo assombro.

Espero debaixo de marquises,
pra me esconder do entardecer,
qual pranto ou alegria,
não deixo essa noite cair em mim.

Espero acima das nuvens,
sobrevoando um continente,
é madrugada, pó de estrelas.

Espero singela,
poucas palavras.

sábado, 21 de março de 2015

Está no ar,
vai e voa como brisa boa de primavera.

É vão do vale verde do verão,
onde se esvazia e se esvai o sentimento,
levado pelo vento,
sugado pela terra, se nutre
a terra mãe natureza.
Sorve o líquido quente com vontade
de quem tem sede por valiosidade.
O morno gozo em seu devido lugar,
no vão do vale verde do verão,
evaporado pela brisa da primavera.

Condensado no ar,
no frio vazio do inverno.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Marx e Engels

Tudo o que é sólido e estável se volatiliza, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar com sobriedade e sem ilusões sua posição na vida, suas relações recíprocas.


Do livro: O Manifesto Comunista

terça-feira, 3 de março de 2015

Sorriso

Uma feição para uma não palavra,
para aquilo que não se sabe dizer.
Um sorriso virtual,
um sorriso real,
um sorriso mental
não deixam de ser afeto sentido e passado.
Porque o sorriso também é solitário,
e de tão só, quando requisitado,
se enlaça numa linha tão forte que puxa,
com alegria,
outro sorriso que o acompanhe.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Octavio Paz

" Todos hemos amado. El amor es un estado de reunión y participación, abierto a los hombres: en el acto amoroso la conciencia es como la ola que, vencido el obstáculo, antes de desplomarse se yergue en una plenitud en la que todo -forma y movimiento, impulso hacia arriba y fuerza de gravedad- alcanza un equilibrio sin apoyo, sustentado en sí mismo. Quietud del movimiento. Y del mismo modo que a través de un cuerpo amado entrevemos una vida más plena, más vida que la vida, a través del poema vislumbramos el rayo fijo de la poesía. Ese instante contiene todos los instantes, Sin dejar de fluir, el tiempo se detiene, colmado de sí."


Do livro: El arco y la lira.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Pablo Neruda 2

Alturas de Macchu Picchu - XII

Sube a nacer conmigo, hermano.

Dame la mano desde la profunda
zona de tu dolor diseminado.
No volverás del fondo de las rocas.
No volverás del tiempo subterráneo.
No volverá tu voz endurecida.
No volverán tus ojos taladrados.
Mírame desde el fondo de la tierra,
labrador, tejedor, pastor callado:
domador de guanacos tutelares:
albañil del andamio desafiado:
aguador de las lágrimas andinas:
joyero de los dedos machacados:
agricultor temblando en la semilla:
alfarero en tu greda derramado:
traed a la copa de esta nueva vida
vuestros viejos dolores enterrados.
Mostradme vuestra sangre y vuestro surco,
decidme: aquí fui castigado,
porque la joya no brilló o la tierra
no entregó a tiempo la piedra o el grano:
señaladme la piedra en que caísteis
y la madera en que os crucificaron,
encendedme los viejos pedernales,
las viejas lámparas, los látigos pegados
a través de los siglos en las llagas
y las hachas de brillo ensangrentado.
Yo vengo a hablar por vuestra boca muerta.

A través de la tierra juntad todos
los silenciosos labios derramados
y desde el fondo habladme toda esta larga noche
como si yo estuviera con vosotros anclado,
contadme todo, cadena a cadena,
eslabón a eslabón, y paso a paso,
afilad los cuchillos que guardasteis,
ponedlos en mi pecho y en mi mano,
como un río de rayos amarillos,
como un río de tigres enterrados,
y dejadme llorar, horas, días, años,
edades ciegas, siglos estelares.

Dadme el silencio, el agua, la esperanza.

Dadme la lucha, el hierro, los volcanes.

Apegadme los cuerpos como imanes.

Acudid a mis venas y a mi boca.

Hablad por mis palabras y mi sangre.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sombra

Um dia alcançarei, além do que se é possível cantar para não se perder, o canto da perda, porque a saudade é só sombra atrasada, é sombra que passou e que ficou, porque um pouco de memória, mesmo que boa memória visual, a sombra, é pelo menos o que resta, mas é o que refresca do sol escaldante (que é a paixão). Cantar para que afaste as sombras do passado.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Insisto

Eu sei da minha insistência
em querer saber qual é a da vida,
qual é a da vida,
ou da dele ou da dela ou da minha.

Ou se sei da minha ânsia
de saber como tudo anda,
ou como a Terra gira

Saber como me sinto,
como rodo tudo,
como posso fazer tudo rodar.

Se sei de algo,
ou se, além de saber, entendo minha tristeza.

De estar só.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O que é, o que é

Que caiu da janela tão levemente?
é a cinza de um suspiro.

Que caiu da jaula e não pode se levantar?
é o canário perdido de asa quebrada.

Que caiu na janta e não pode ser comido?
é o prazer de outrora agora intragável.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Pendência

Sentimentos em pendência
sossegos em andamento
silêncio em aptidão
eu apta a preencher grandes vazios brancos em letras negras
sou apta a calar-me onde não se vê a letra literal
me adapto à linguagem dos olhares
em pendência em andamento em aptidão
ao instante de proferir:

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Quantas injustiças.

A luta por uma vista mais privilegiada.

Quando a onda que vem
de lá,                     dali,
a luta vem de todos os lados.
A areia levanta,
que vista! O que oculta
a duna, a caverna,
a trilha entre folhas?
Que lei da natureza há
que os homens aprenderam que o poder
e a hierarquia prevalecem enquanto
tudo é bonito; não dócil,
inóspito, porém não cruel?

A maldade está em todas instâncias,
até no efêmero: um olhar,
ou uma palavra proferida sem pensar.
Sem pensar na atitude,
sem pensar,
não pensar é dávida e é maldade.
Até no breve que é a vida.

Encontros

Todo encontro é tão caro...
Até o meu com o teu, trino.
São três palavras que significam uma só.
São três instantes que perduram até: momento memória museu.
São três ouvintes para cada sílaba:
infinito tem quatro, apego tem três, envolvimento tem cinco,
um, dois, menos seis, zero.
Em infinitos encontros incontáveis cada segundo é um encontro,
cada encontro é inusitado,
cada "eu te amo" são tão inúmeros quanto eternos -
grãos de areia, ondas puladas, marolas atravessadas,
peixes avistados, veias existentes, passos dados,
torturas executadas, índios vivos, pessoas odiadas.
Até que ponto cada encontro é caro e contável?