quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Espetáculo

Ouvi boatos sobre um grande espetáculo que está por vir. Dizem que será apenas uma breve cena, envolvendo cordas e efeitos especiais, para polemizar, com certeza! Em uma pequena cidade, tudo o que é distinto encanta e espanta.

Será apenas uma única pessoa atuando. Não é uma atriz, foi o que me disseram. Não cantará uma música ou tocará algum instrumento, muito menos é artista de circo para impressionar-nos com seus malabares. Será uma de nós? Quem?

Conhecendo o perfil dos organizadores (temos uma vaga noção de quem seja, são apenas rumores), será algo tão mórbido e proibido como incesto e sado-masoquismo juntos. Há uma pessoa favorita destes homens, se me lembro bem.

Mas os dias se passam, e as palavras se perdem nos ecos das ruas escuras, rebatendo nas paredes dos becos, entrando nos ouvidos dos moribundos. Estes são os mais ansiosos, não os curiosos da cidade. Os que vagueam solitários pelas noites esperam ver seus destinos representados em um único ato: tão dramático quanto as suas vidas!

O palco começou a ser montando, e a multidão já se aproximava. Quando anoitecer e a mais brilhante estrela se destacar na abóbada celeste, começará o show. Alguns deram faltam de uma pessoa, para outros passou tão despercebido como um vírus se apossando de suas células (se manifestará dias depois!).

Acendaram uma única luz branca, absorvida pela cortina preta que escondia o palco. O silêncio foi absoluto, e cada movimento era audível. Mas nada sobre o espetáculo.

Em uma brusca agitação, as cortinas se abriram, e atrás delas estava uma simples garota da cidade. Amada por alguns, indiferente para outros, odiada pela minoria restante. Estava sentada em uma cadeira, em um ambiente cheio de cordas presas ao teto; incontáveis serpentes que balançavam seus rabos com o vento; mas uma em especial: uma corda vermelha, amarrada em um círculo, com um nó perfeito.

A menina subiu na cadeira, e encontrou seu pescoço perfeitamente ajeitado para enfiar a cabeça. Mas não o fez. Olhou para o céu, e esperou começar a chover, como se soubesse que aconteceria. As gotas que caíam das cordas, alagavam o chão. Estranhamente, a corda vermelha chorava sangue, assim como a moça. Uma poça densa escorria.

Passou o pescoço pelo círculo, e a multidão assustada gritava pedidos de negação, mas a garota ignorou-os. Junto com um estrondoso raio, chovendo sangue, deixou que seu peso atuasse, pendurada na corda. A luz se apagou, e tudo ficou à luz das estrelas. Num ímpeto, acenderam-as novamente, e em uma faixa branca estava escrito "Ansiavam pelo meu suicídio!".

Nenhum som mais importava, ou atitude e palavras. Para as pessoas que a amaram, sim. A chuva vermelha misturou-se com as lágrimas, agora de sangue. De fato queriam vê-la morta, disso todos sabiam; mas não a tal ponto. Sumbestimaram um sentimento e uma pessoa.
A garota perdeu seu toque de ouro até sua morte.

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