terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cega

Meu coração acelerou, inflou de ânsias. E eu só tinha pensado na menina. Só tinha lido o seu nome; o reflexo das letras no meu óculos, na noite escura - apenas a luz do celular acesa. Nada de mais, palavras trocadas... E meu coração disparou, encheu de ar, como o ar de quem se inspira, inspira e respira o rastro deixado da pessoa querida. E eu só tinha falado para a menina um pouco do meu momento. Só tinha lhe dito parte de quem eu sou. Então o coração estourou, se dissipou, os ventos - furacões e tornados - se dissolveram, sumiram e causaram destruição, transtorno nas cidades, até nos mais simples povoados que cercam este coração... que um dia se iluminou com um nome.

As luzes se apagaram, e eu dormi. No dia seguinte não precisei mais de óculos para enxergar o nome da menina, mas meu coração me disse que cega estou. A menina não existe. A razão não existe. O coração se enganou e tropeçou, às cegas, por uma paixão que o desequilibrou.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O toque de ouro

(...)

- O que Vossa Excelência prefere: comida e um copo d'água fresca ou essas pedras de ouro? - disse o estranho.

O Rei Midas não conseguiu responder.

- O que prefere ter, ó Majestade? Aquela estatueta de ouro ou uma menina que pode correr, rir e amá-lo?

- Ah, devolva-me minha filhinha Áurea e eu abdicarei de todo o ouro que tenho! - disse o rei. - Perdi a única coisa que realmente me valia ter.

- Vossa Excelência demonstra agora mais sabedoria do que antes - disse o estranho. - Vá mergulhar no rio que passa nos fundos do jardim, e depois leve um pouco da água para jogar sobre tudo aquilo que deseja ter de volta ao normal.

O estranho, então, desapareceu.

O Rei Midas levantou-se rapidamente e foi correndo até o rio. Mergulhou, pegou um bocado de água e retornou ao palácio. Jogou-a sobre Áurea e as cores voltaram a iluminar seu rosto. Ela tornou a abrir os olhinhos azuis. - Ora, papai! - disse ela - O que aconteceu?

Chorando de alegria, ela a pegou no colo.

Depois disso, o Rei Midas nunca mais se preocupou com ouro algum, a não ser o ouro que existe no brilho do sol e nos cabelos da pequena Áurea.



Adaptação de O livro das maravilhas, de Nathaniel Hawthorne.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Saudade

Recorrer à nostalgia não é uma agradável maneira de se passar uma noite, ao som de um violão. A chuva está em segundo plano... Sempre esteve.

O amor não é nenhuma grande verdade, quando se trata de nós duas. O que se passou, então, com tão intenso sentimento, duradouro, que marcou uma dor chamada distância, e um coração chamado comunicação? Cantorias não se resolvem mais, a felicidade jamais foi tão fulgaz, a alegria não foi mais tão recorrente aos meus sorrisos. Sim, eu me alegrei, e muito, com a vida e seus rios, com sua vida.

O que seria, então, essa agudez que corta o peito? Se tudo já se foi, não haveria motivos. Nunca acreditei que seria real, mesmo após os sonhos terem cessado. Eu pedi, roguei, implorei. Não tem reciprocidade nesta minha saudade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mário Faustino

O mundo que venci deu-me um amor

(...)
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
(...).

A casa de espelhos

Afogou-se na casa de espelhos, obrigado pela madrugada.
Reservou-se na casa de espelhos, e calou-se.
Aproximou-se.

As paredes eram espelhos, o teto era espelho, o chão era espelho,
o mundo era espelho; a casa era espelho, de espelhos.

À sua frente, um corpo.
Em sua posição, outro corpo.
Por todos os cantos: corpos, e mais corpos, e mais corpos...
Debaixo de seus pés, a profundidade de um clarão
(o mais belo e vívido, epifânico, sob olhos secos e compulsivos).
Acima de sua cabeça, a altura do divino.

Nunca será seu reflexo,
a passagem de um futuro.
Todos esses espelhos eram seu pretérito,
endividados,
enlouquecidos e esquecidos em um presente,
no qual, neste momento,
fundiu-se ao explendor de mãos críticas.

Imagens vermelhas apavoram,
porém aliviam.

Não houve espelho que tivesse passado desapercebido,
pois na casa de espelhos, o espelho é o inimigo,
o diabo,
vulto perdido que o corrompe.

Na casa de espelhos, o corpo é mero produto do prazer,
refletido em todos os lados,
a todo o tempo,
fracionado em detalhes.

Não se pensa na casa de espelhos.
Não se ouve,
não se diz.
Faz-se.

Rouquidão

Quase não se diz.
A voz falha.
As frases se misturam,
as palavras se confundem.
Os ruídos são rasos;
os rumores são ralos;
os rugidos são rasgados.

Quase não se ouve.
A voz é rouca.
Os sons são fulgazes;
os lábios são vorazes.

As ideias estão rentes à sede.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O fim

Eu não deveria ter-lhe dito.

Rapaz de tão série expressão, seu sorriso calentou a paixão de uma menina.
Coração, este, tão fulgaz quanto a pressa de amar.
Paixã, esta, tão intensa quanto o mistério de saber como seus lábios pronunciariam o meu nome...
E você o fez.

Quisera eu, agora, que não soubesse de mim;
quisera eu...

O sentimento somente será puro e real enquanto secreto.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coração

Meu sorriso tem o nome de um rapaz
de tão bela voz, e uma calma que me inquieta.
Sua presença me acelera;
seu toque me tenta
aos tropeços,
sem tato,
no entato,
tal toque
é o tambor
tremoroso,
tremendo,
estrondoso;
e termino
o tentar,
transformo-o
em tornar,
encontrar
um jeito
de tê-lo
tão perto,
tão certo,
incorreto,
imperfeito,
este feito,
este tom,
meio tom,
para mim.

Rapaz são, de tão série expressão; sua ausência me acalmou.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O silêncio

Não queria ter de lhe suplicar palavras, meu velho amor. Seu silêncio me engana; sei que esta é a sua expressão. Você me conta sobre seu dia, enquanto eu ouço "Não te chamarei mais de amor. Sejamos amigas"; enquanto eu penso "Chama-me de amor, diga que me ama hoje, diga que sente minha falta"; enquanto você diz que não quer mais estar aqui, que vai dormir, e eu lhe peço, diga que me quer em sua cama, que quer se deitar comigo. Mas não. O silêncio é a sua expressão; seu silêncio não me engana, seu silêncio me diz "Nada tenho a dizer, nem para você".

domingo, 26 de setembro de 2010

A minha menina

Para a minha menina, meus pensamentos. Minhas singelas lembranças. Minhas palavras. Pois eu seria capaz de muito...
Transformaria letras, emabaralharia-as, e juntaria-as novamente, para que nada fosse previsível. Moldaria-as no formato da palavra "amor", e torceria para que se eternizassem em alguma mente insana de paixão.
Inventaria-me para me acomodar nos sonhos, não fugindo da realidade, mas escapando de casa para vê-la. Que o farei, sim, algum dia.

Foram 193 passos silenciosos até a porta de casa, mas longas caminhadas até a minha menina, do outro lado do país. A minha menina, que vive de ruídos mudos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Mar de fogo

Entre a confusão de vozes, não há destaque. A visão embaçada da embriaguez não me permitiu ver que um estilo pode ser tão singelo assim, mas o que eu queria não era simples quanto imaginei.

A canção que me acordou, e a voz saltou como se o óbvio não pudera ser mais do que já é. Caí em um mar de fogo, meio-sentimentos e silêncio; um único som: as chamas. E pela correnteza... eu vou.

domingo, 29 de agosto de 2010

Estação

Essa noite sonhei de novo com você, meu amor. Eu estava a caminho de suas terras, nos trilhos. Me deliciava com o gélido vento que perpassava pelo trem, de braços cruzados na intenção de me esquentar, além dos grossos casacos que havia me sugerido levar. Entretanto, a paisagem não apetecia à minha curiosidade, no instante em que minha imaginação me entretia um tanto mais. Sabe do que falo, do que sempre falo, do que vivo falando: você.

Ao por o primeiro pé na estação, te vi. Nunca te vi tão real, tão bonita. E minha. Você me viu também. Não sabíamos o que fazer em meio a tanto êxtase; a felicidade saltou das minhas pernas, que foram ao seu encontro; não eu, elas. E você, a alegria irradiava dos seus braços, que nos envolveu em um momento que antes nos era tão... utópico. Então acordei.

Então acordei e me lembrei de que um amor assim não existirá até quando aquele momento nos for real.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Gustavo Adolfo Bécquer

Rima XXI

—¿Qué es poesía?, dices, mientras clavas
en mi pupila tu pupila azul,
¡Qué es poesía! ¿Y tú me lo preguntas?
Poesía... eres tú.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O mirante

(A cidade se fundiu com o céu.)

Alto cá cada luz é cada casa, cada carro, cada caminho. Alto cá cada carinho era precavido, cada caso uma enclave, toda a encosta eram canções.

Alto lá cada luz era dos seus olhos, todo o calor era do seu corpo, cada limite era meu, todo o amor era seu. Alto lá cada minuto era nosso.

Alto cá, as lembranças se cansaram; toda a luz se calou, todo o som se abafou. Cada cara era rara, cada encosto era caro; casa sonho era raro, cada palavra era escassa.

Alto lá! A calmaria se calou.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um sonho

Num momento de semi-realidade, eu te vi. Eu te vi e chorei. Com todo o poder que eu tinha, corri. Nada parecia importar mais do que conseguir te abraçar, porém tudo o que envolvi foi meu travesseiro.

E a claridade da manhã me despertou.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O tempo

O tempo é paixão...
Tão fulgaz!
Confunde até os mais belos sentimentos.
Faz da beleza um refúgio para justificativas.
Revive empoeirados e quebrados corações,
e os devolve como os encontrou.
Paixão é momentânea.
Felicidade instantânea.

O tempo é amor.
O próprio.
Trancado em seu espaço.
Se amou intensamente.
Se desejou tanto
que o amor não coube:
escapuliu pelas feridas;
e a porta se abriu.

O tempo é amor.
O meu pelo seu.
A certeza diária das escolhas.
A minha pela sua.
A abdicação que nos fez sorrir.
Por fim, o entendimento
e a conclusão.

O tempo é amor.
O reflexo do fulgaz.
Duradouro.

O mais pálido dos rostos

O mais pálido dos rostos se corou com o toque da minha mão. Repousei-a lá, e quando o sol inundou a face, convidou-me para beijá-la. Ele se foi, e um sorrido criou outro. Voltou, para nos unir.

O verde azulado eternizou-se. Uma troca de olhares, até por um dos mais críticos olhos, quis ser presente por mais tempo. Os risos da descoberta me atormentaram; então pude abraçá-la, enfim.

Até nesse tumulto preto e branco, o sol fez o mais pálido dos rostos avermelhar-se, e duas mãos se entrelaçarem.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O silêncio, o vazio e o resto.

Meus dias são nervosos enquanto as palavras não saem. O silêncio é o meu mal, é o meu bem. A pele quase foge da quietude, que se descola dos pensamentos; contudo, me protege, me salva. Pensar em ti, esse é o meu forte.

Hoje vi em uma moça o seu sorriso, e até os meus dedos se calaram. Estagnados, como quem sonha com veemência. Se toda vez em que adormeço não bastasse para estar com você. Abraço o vazio em vão. Enlaço o vazio, agora são. Amasso o vazio, atiro-o no chão. Pisoteio-o.

Lhe ver feliz, minha maior ambição. Se já não, meu corpo a tomou.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Paisagem

Lhe digo que o que se encontra debaixo da pele é apenas o que importa. O que o tempo resseca, o tempo renova. Quando há feridas, há amor, há vida.

Que a neve envolta por cascas, árvores, folhas e sangue é a precipitação dos devaneios mais longíquos que o vento pode ir.

Que as gotículas de orvalho também levam consigo a procriação, assim como um olhar terno, e um sorriso de paz. Um sentimento foi criado, foi transformado, foi gerado. Nasceu, e não morrerá tão cedo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A eufonia do rei ressentido

De repente, tudo o que me restou foi a realidade de uma realeza; reis e rainhas que regiam sobre mim a revolta do ser.

O que raios ratos e ruas faziam ali... Retiravam-se das tocas trocas e das ruínas. Reviravam as ruelas atrás do perdido: recuperar o respeito dos risonhos, tristonhos e de seus sonhos.

Respiravam o ar rarefeito, enquanto relembravam dos reis e das rainhas, e tudo que os restou, de tudo que os lembraram, de tudo que o rapaz ronronou e a língua enrolou.

sábado, 12 de junho de 2010

O limite de um sonho

Olhei para o relógio e os ponteiros pareciam querer fincar o meu coração. Diziam que tempo me faltava, que tempo me sobrava, que tempo eu não saberia coordenar... Não em um lugar como este.

Adormeci e sonhei que estávamos deitadas, apenas. Eu a admirava como quem crê veemente que está sonhando; e de fato estava. A realidade é deveras cruel para aqueles que amam como eu. Desejei que não sentisse o mesmo, mas também quis ter esperanças. Chorei quando acordei.

Porém se a cada dia me vejo em uma vida que parece não me pertencer mais, é ao seu lado que quero estar. Criarei muitas outras palavras somente para descrever o quanto você é especial para mim. "Gostar" está me limitando.

O dia em que eu abrir os olhos e me deparar com o seu rosto, ternamente vou acariciá-lo, e dizer o quão linda você é. Beijarei seus olhos para provar ao tempo que o sonho veio à tona. Que a realidade também pode ser deveras adorável para aqueles que amam como eu e você.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Suposições

Que quando suspirei profundamente ao ver-te, aspirei o ar dos loucos, e hoje assim estou: louca. Cegamente louca.

Que quando fechei os olhos para estar junto de ti, adormeci; como se não me deixassem ter tal tipo de sonho.

Que quando afinei as cordas do meu violão, pensei que logo te conquistaria tocando algum romance do Beatles; mas minha voz não saiu.

Que quando supus um sentimento, não foi em vão.

Porém quando busquei reciprocidade, estava querendo demais.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sofia não sabe.

Por mais cuidadosa que Sofia fosse, sabia que seus passos ecoariam na rua toda. Claro, eram seis horas da manhã de um domingo, e estava solitária.
Nem mesmo o céu quase azulado, num meio termo de cinza e azul marinho, animaria a garota.

Sofia sabia. Nada disso teria acontecido se tivesse fugido na primeira oportunidade. Cada pé que põe fora de casa é uma chance, porém ela sempre soube que frustrada ficaria por muito tempo.

Sofia sabia que tudo tem um motivo para acontecer, mas ainda assim indagava onde se perdeu.

Por mais preocupada que Sofia estivesse, sabia que seria descoberta.

Sofia amou, e se calou.

sábado, 29 de maio de 2010

Sentido

Era outra manhã de desespero meu, em que nada fazia mais sentido senão estar deitada. Não existia melhor calor que o das minhas cobertas, ou maior conforto que o do meu travesseiro; até mais do que belas palavras. Como se meu objetivo do momento fosse ter sonhos cada vez mais vívidos. Dia após dia. Surpresas hão de vir, sim.

Eu a conheci, porém minha vida já havia mudado drasticamente desde então. Motivos eu tinha para estar acordada, só a vontade que nunca foi voluntária. Seria muita sorte do cosmos fazer-me uma pessoa mais feliz; pois tudo tem dois (ou mais) lados, e toda ação tem sua reação. O que lancei, voltou. Um dia me levantei num ímpeto de vivacidade jamais visto, e joguei a bomba para todos: estou apaixonada. Quis que tivessem o mesmo ânimo que eu; quis ser contagiante, e fazer com que todos se sentissem bem... como eu. Por duas semanas, quase que fulgazmente, eu quis mudar o mundo. São dias após dias, e minha paixão fazia todo o sentido.

Até que me despertei e senti que faltava um calor ali. Não o das minhas cobertas, mas o da reciprocidade de vontade, aquela que conquistei. Não soube o que fazer, porque nada poderia ser feito. Pensei em cada lugar onde possivelmente haveria brexas de sol, mas nada fazia sentido mais. Nada faz sentido mais. Talvez meu violão cantasse minhas lamúrias, ou verbalizasse minhas lástimas.

Tudo se vai, e a felicidade é mais curta ainda. A sensatez nunca é duradoura, e a vida faz sentido enquanto o amor é quente.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Perspectivas

É assim que direi, é assim que parecerá. Talvez nunca seja suficiente o tamanho em que denoto minhas palavras. Expresso por costume, por querer me perceber; para ver em quais outras perspectivas estará você.

Quero falar, e o farei. Há muito na minha vida eu soube que de nada sei, mas eu soube que de mim eu sei; que sempre terão filosofias a serem descobertas.

Diante de todas as experiências, aprendi sobre o amor e sobre a ternura. Se quando eu correr ao seu encontro, for te abraçar fortemente, me entenda. Se eu chorar, não será de tristeza. Se eu me demorar no seu olhar, e me envergonhar, será porque é de tamanha intensidade, que não pude suportar nem sustentar o que via através de mim.

É com enorme satisfação que lhe digo o tanto que gosto de você. Ninguém nunca sentirá a emoção que tenho ao olhar seu sorriso. Somos únicas, você e eu.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Planos para o amor

Durante a eternidade que uma noite pode se tornar, quero imensamente seus sorrisos. Ouvir sua voz por horas, e te sentir como se estivesse ao meu lado. Quero te ouvir cantarolar, e beijar seus profundos olhos, aqueles que, sei, me olharão ternamente.

Te pegar de surpresa, te levar para dançar. Cantar ao seu ouvido qualquer balada sobre o amor, enquanto te seguro, forte, nos meus braços, para que nunca mais volte a estar distante.

Dividir um apartamento com você, e te acordar todas as manhãs com meus abraços. Perder a hora, por estar perdida em você.

Pentear seus cabelos, e beijar seu pescoço quando estiver à mostra. Segurar suas mãos, e dizer "Sou sua". Dizer "Eu te amo".

Sonhar com você.

sábado, 1 de maio de 2010

10 segundos

Não vou mais me demorar no seu olhar. Quando percebi que meus esforços foram em vão, já era tarde demais.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Antonio Machado

Caminante no hay camino

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

domingo, 11 de abril de 2010

Mágica

Eu nunca quis te largar. Seria tão clichê quanto dizer que até o meu relógio biológico parou por você.
Oh, tão mágico te ver através de tanta fumaça.
Tão mágico encontrar-te com princípios tão errados.

Se para te beijar essas forem as condições, quero ter câncer.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Contradição

E se eu disser "Não me importa mais.", sei que me contradigo.

Como eu deveria ser, não vou nem tentar. O que eu deveria falar, vou me calar.

Mas se por acaso eu ficar sem ar, me virar, tornar a esquecer os motivos para crer em perder a vez da vez, e o que ele fez, o saber entender, para finalmente enxergar, palpitar, gritar...!

Ah, sem pressa... Sussurre seus segredos, promessas e juras, e juras e sonhos. São como sinos, que ecoam no salto mais alto do silêncio.
Saiba sair das silhuetas dos sãos.

Diga adeus, e não se contradiga mais.

domingo, 21 de março de 2010

Sofia

09/03/10

Sofia bateu o pé com força no piso de madeira, e aumentou o tom de sua voz, para ganhar da chuva grossa que batia na janela do seu quarto.

- Não suba aquela montanha novamente! Nem toda neve é verdadeira, nem toda árvore está viva, nem toda grama é virgem, nem todo sangue esparramado é teu. Também há vestígios meus... Lágrimas minhas...

Sofia tirou seu casaco, revelando seus braços nus, e passou as mãos pelos ombros.

- Sentes o que sinto? Suba esta serra; lá a realidade é o teu prazer, o sofrimento é belo, e tuas mãos são Deuses.

Amor próprio - o fim. 2

Tornei-me cega. O sangue jorrado, seco em meu corpo, foram os últimos estímulos para o apreciador da dor.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Amor próprio - o fim.

E o cúmulo da insensatez chegou ao máximo!
Quebre os teus dedos, jogue os dados para o alto, arranhe o teu rosto, cante em voz alta, arranque os teus braços fora e assista o sangue jorrar... Ah, mas quanto prazer. "Meu filho; fruto do meu prazer, da minha... loucura!"

Acordaste bem esta manhã? Não atreva-te a me olhar com tal desgosto. Sabes que o Mundo não olhará para ti, como sabes que tuas pernas logo queimarão.
Teu corpo não mais te amas. Agora diga adeus.

quarta-feira, 3 de março de 2010

A chuva além da porta

A voz estridente e as risadas abafadas ecoaram pela sala.
E o meu olhar para fora...

Estava frio, e o moletom azul marinho me aquecia.
O motivo era a chuva, que deixou os rostos os sonolentos.
A chuva, que largou a solidão atrás da porta.

Eram os meus olhos fechados, e os meus ouvidos concentrados.

A chuva com suas grossas gotas; as folhas verdes das árvores.
As folhas molhadas.

Era a chuva, e o seu mundo lá fora.
E o meu mundo lá fora.


A manhã escureceu. E o meu olhar para fora... além da porta.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O céu e o mar

Sob o azul mais anil visto,
os vestígios das águas fizeram da areia um espelho.
Passos que o quebraram, não em cacos,
mas em portas, túneis e portais.
E o mar refletiu o céu.

As ondas que brincam e brigam;
revoltaram-se, e em seus três sentidos,
vitoriosos saíram nas milhares de batalhas travadas
entre as águas e os pés persistentes.
E o mar acalmou-se.

A feminilidade o fez rosa,
e o oposto o fez azulado.
Em degradê, humanizou-se.
O pouco restante evaporou,
fez-se do desconhecido previsível uma neblina.
E o mar fundiu-se ao céu.

Após o grande espetáculo,
somente o tolo guerreiro ameaçaria
o que agora era um só.
O breu, o negro, os astros e seus reflexos.
Finito, agora ultrapassou o cosmos.
E o mar virou o céu.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nós

Com os meus dedos entrelaçados aos do rapaz, tive que desprendê-los repentinamente. Eu não queria, mas o fiz. Na realidade... eu quis sim; quis tocar a pele da moça ao meu lado com a ponta dos meus dedos, e acariciar o seu rosto, até chegar em seus olhos. Fechá-los com as minhas palavras, e assim assustá-la quando minha boca fosse ao seu encontro. Mas isso não aconteceu. Soltei a minha mão protegida pelas mãos do rapaz, por costume, por mania.
Afrouxei o nó tão forte que havíamos feito, mas não foi difícil apertá-lo e fortalecê-lo novamente.

Lembrei-me de que o nó mais apertado é aquele feito pela pessoa fortalecida, e o mais fraco pela pessoa esquecida. Neste momento eu quis que existisse um "nós", quis permanecer com os meus dedos sob os do rapaz, e assim amarrá-los.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Profundo

Tentei privar-me do amor que a sua essência emana. Resisti contra os meus mais profundos desejos e anseios, e pensei ter criado uma barreira. Avancei, quis expandir, conquistei, debrucei-me sobre os seus contos e assim vi-me derrotada.

Oh, que baixaria de sua parte! Sempre soube dos meus segredos, talvez até antes de mim, e não avisou-me que seria difícil. Nunca encontrei-me tão persistente, em nada, e agora escavei forças do subterrâneo com as mãos. Estando aqui na superfície, temo saber como é viver lá embaixo, envolta por todos esses ares...

Nunca fui decidida, mas enquanto entrego-me inteiramente, tudo o que quero é você. Estou inundada de alegria por ter encontrado alguém para gostar, mas submersa nessa mesma fantasia. Talvez seja concreta, talvez abstrata. Estou com medo, confesso. Palavras não me salvariam. Quem sabe...

Pois não há mais caminhos para a minha volta, apenas uma direta, estreita e escura estrada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Dom

Entendi qual é o meu problema. Não preciso mais que me digam quem eu sou. Deixem-me, que eu descubro.

A necessidade de distrair-me ainda é cotidiana, mas de fatos recentes, que me perseguem e me jogam numa cadeia de memórias e lembranças dolorosas. Quis tentar crescer, superar e substituir as cenas do meu filme, e o que consegui foi empilhar mais ainda os abalos e os exageros.

Decidi rever os pontos cegos, onde eu tropeçava na calçada, os buracos do asfalto, o que os tornava tão vazios e avassaladores. Foi a chuva, foram os carros, as motos, foram as pessoas, os vândalos, foram os baques, o atrito, os estranhos e esquisitos, foram os homens e uma mulher, o "para o que der e vier", foram as moças, o "deixa estar", foram os músicos, os cantores e guitarristas, os bateristas e baixistas, foram os escritores e os poetas, foi a dor e o amor, foi a arte de se apaixonar, o dom de amar.

Olhares inquietos, incessantes, famintos e críticos deram-me um dom, e assim me especializei e me afundei na única arte que predomino. Este é o meu problema: gostar demais.

Fumaça

Apenas o seu rosto através da fumaça para me sensibilizar tanto, mulher. Brinco de gostar, divirto-me com as sensações, respiro sua fumaça e expiro paz.

Caio na pegadinha do meu próprio jogo, e me perco em suas regras. Apaixonei-me pelas minhas peças, e assim elas se tornaram os jogadores.

Após um cigarro, tudo está mais evidente. Cansei-me; agora prefiro outra tática.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Incessante insônia

As noites não me dão sossego nem escolhas. Gritam por cores, prazer e entretenimento. Chamo-as de insônia, pois.

É quando vejo-me só, e o meu imo pede por hipóteses. Quanto mais explícito quer ser, mais implícito é. Quis retardar as análises, e assim fez. Agrediu e afetou seus familiares, tamanha as férias que tirou de si. Águas passadas, nunca mais serei a mesma.

Cicatrizes não me exteriorizam mais, são apenas marcas e recordações, não poços de interpretações. Leio em meu corpo a resistência e a persistência, e entendo o porquê de clamar secretamente por mudanças.

As noites testemunham a inquietude do meu verdadeiro ser. Apenas sou eu mesma quando é de madrugada.